22/12/2003

Momentos do ano

É a primeira vez que faço isto e ainda não sei bem por onde começar... O que me foi proposto foi escolher os meus 10 discos do ano. Confesso que este foi talvez o ano em que poucos discos lançados este ano comprei, infelizmente o mercado está bastante inflacionado e, cada vez mais, temos de olhar para as etiquetas "Preço Verde" e "Preço de Amigo", que normalmente rondam o preço aceitável por um disco (entre 12 a 16 euros). Com os preços praticados e com a falta de emprego (limito-me a estudar em horário quase-pós-laboral), esta selecção fica bastante dificultada.
Achei, contudo, que não devia referir apenas discos do ano mas também momentos...

O momento extremamente negativo de 2003 foi a não-existência do festival Ilha do Ermal. Se por um lado um dos momentos mais negativos de 2002 foi a forma como o público reagiu aos Nickelback, por outro lado é importante e faz falta um espaço onde o Nu-Rock e outros sons mais "pesados" tenham um lugar de destaque. O meio underground do metal é, talvez, aquele que tem maiores dimensões em Portugal e a existência de um festival que faça uma maior aproximação a esse público é totalmente justificado e louvável.
Também extremamente negativa foi toda a polémica em torno da Orquestra Metropolitana de Lisboa, da qual gosto particularmente. Não tenho dúvidas que, uma vez reposta a credibilidade da instituição, esta continuará a ser a maior e melhor Orquestra portuguesa, seja com que maestro fôr.
Em termos de rádio foram globalmente negativas as (novas) mudanças radicais no seio do grupo Media Capital Rádio (MCR), que voltou a trocar as voltas aos ouvintes. Nestas mudanças apenas o público mais novo de Porto, Coimbra e Lisboa é que fica contemplado com o canal dirigido a eles (a Best Rock, à semelhança do que acontece com o canal rebelde do grupo Renascença, maior rival do MCR); recriou o enfadonho Rádio Clube Português (que, apesar de ter sido o canal que deu origem à revolução de Abril, foi até essa madrugada uma rádio ao serviço do regime) mas que em pouco difere da antiga Nostalgia, apesar de ser dita generalista; a Comercial que foi totalmente reformulada para um público que quer ouvir quase exclusivamente hits, à semelhança do que acontece com a RFM (novamente grupo Renascença); para finalizar também a intermitente emissão da Mix FM no Porto é alvo de crítica. O grupo MCR parece estar inconsistente e, a meu ver, limita-se a tentar seguir o rasto do grupo Renascença. Um tão elevado número de mudanças num período tão escasso não me parece boa política para manter e cativar ouvintes.
Fora do âmbito musical e também pela negativa fica o fim dos ciclos de cinema alternativo no Cine-Estúdio 222, também em Lisboa.

2003 foi também um ano de momentos muito positivos e que desejo que se voltem a registar em 2004. Seguindo a mesma ordem de temas que abordei acima, em termos de festivais foi extremamente positiva a forma como as novas bandas portuguesas passaram pelos palcos dos grandes festivais, contrariando os responsáveis dos grupos privados de rádio que dizem que as pessoas não querem ouvir nova música portuguesa e daí não investirem nela. Vejamos o caso dos EZ Special, por exemplo, uma nova banda e, a partir do momento em que cativaram os ouvidos dos responsáveis de marketing de um operador de telecomunicações, passaram a ter grande air-play em rádios que, por norma, fecham as portas a novos projectos. Mas falava eu dos festivais... O efeito não é propriamente surpreendente, tem vindo a crescer lentamente ao longo dos anos, e consiste na forma como as pessoas vêem as bandas nacionais. Se há três/quatro anos atrás um palco secundário estava sujeito a ter meia-dúzia de curiosos e amigos das bandas a observá-los, agora as pessoas já fazem uma certa questão em passar por lá com a curiosidade de conhecer. Este fenómeno registou-se particularmente na tarde de hip-hop do Festival Sudoeste, onde várias centenas de pessoas se apertavam dentro da tenda.
As Orquestras do Porto vão finalmente ter um espaço (ou já têm) decente para as suas actividades na tão polémica e atrasada Casa da Música. Finalmente alguma coisa em defesa dos músicos clássicos do Porto! Há já vários anos que eram pedidas instalações à Câmara Municipal mas esta nunca deu relevo à cultura. É um facto que o Porto tem problemas bem mais graves que precisam de ser solucionados mas também não se justifica que decisões de clubes de futebol já sejam tidas em conta e com prioridade para executivo camarário.
Na área das rádios foi o serviço público de rádio-difusão que esteve melhor. RDP Antena 1 com um leque mais alargado de nomes portugueses, programação mais abrangente e uma imagem mais jovem e, ao mesmo tempo, mais portuguesa. RDP Antena 2, até aqui limitada a composições clássicas e óperas, expandiu-se também à área do jazz (até aqui quase confinado aos "Cinco Minutos de Jazz" de José Duarte, no canal generalista da RDP). RDP Antena 3, mantendo a base estrutural herdada do Eng. Luís Montez, voltou a crescer na área dos programas temáticos e de autor.

Dito isto, vamos a discos... É habitual escolherem-se múltiplos de 5. Para não correr o risco de excluir algum disco que me agradasse nem escolher discos que não me marcaram particularmente, resolvi escolher meia-dúzia de discos que me surpreenderam de alguma forma.

Alla Polacca & StowawaysStowaways - "Why not you?" (Bor Land)
A Bor Land tem trazido para o panorama musical novos nomes e estilos. Se até Janeiro de 2003 a etiqueta de Rodrigo Cardoso contava apenas com compilações e um Split CD promocional, logo no primeiro mês deste ano lançou o trabalho de Old Jerusalem e fechou o ano com um duplo CD de Alla Polacca e Stowaways. Qualquer um dos discos poderia constar nesta lista mas foi a sonoridade dos Stowaways que me cativou e surpreendeu mais; por um lado fez-me reviver os meus primeiros anos de vida, os desenhos animados musicais e, por outro lado, abre portas para a (re)criação de estilos.
Blind ZeroBlind Zero - "A way to bleed your lover" (Universal Music)
Não é o meu trabalho preferido dos Blind Zero mas é um disco que deve fazer parte das prateleiras de quem procura os melhores trabalhos de música portuguesa, quanto mais não seja pelo simples facto de ser possível ouvir Jorge Palma a cantar em inglês naquele que considero ser o melhor tema do disco. As histórias em torno dos temas acabam por ser a maior mais-valia deste disco.
ToranjaToranja - "Esquissos" (Universal Music)
Lamentavelmente das poucas vezes em que vi os Toranja ao vivo, o som foi sempre de qualidade medíocre. O que me fez escolher este disco foi talvez a simplicidade das músicas. Não procuram fazer nada de novo e, ao mesmo tempo, são novidade. As músicas ficam agarradas ao ouvido como um cão agarrado a um osso. Se ao início não dei grande relevo à banda, comecei a pensar duas vezes quando dava por mim no chuveiro a cantarolar as músicas deles. Depois da passagem pelo Viva a Música, decidi que era definitivamente um disco a colocar entre os melhores do ano.
INFAMOUS & VRZINFAMOUS & VRZ - "100 Insultos" (Matarroa)
Este disco da editora-irmã da Bor Land (partilham as mesmas instalações da Sra. da Hora - Matosinhos) começou por causar impacto visual. A capa na foto aparenta um cinza escuro e preto banalíssimo mas o real é praticamente todo preto e as partes que se vêem a preto na imagem daqui têm uma camada plástica que reflecte a luz. Depois da apreciação estética o disco foi colocado no leitor de CDs.
O disco é um disco de hip-hop como muitos outros... São 18 temas sempre em torno do mesmo tipo de música e de vozes, o que não é de todo funcional. Ouvindo em blocos de 3 temas já resulta extremamente bem. Bons samples, uma produção de grande nível e convidados que dão a este disco um toque de elevada qualidade no hip-hop português.
Outros discos de hip-hop lançados este ano poderiam estar aqui mas este foi o que causou maior efeito surpresa, daí estar este e não Ace ou os Dealema neste lugar.
Big Fat MammaBig Fat Mamma - "Parece difícil" (Universal Music)
E esteve mesmo difícil para os Big Fat Mamma... Infelizmente nem o disco veio facilitar as coisas, com a banda a passar quase despercebida para a maioria das pessoas e a própria editora pouco ou nada fez para que as coisas pudessem ser diferentes. Este rock com sabor brasileiro merecia melhor sorte, quanto mais não seja pelo rigor com que os músicos fizeram o seu trabalho e pelas mais-valias trazidas pelos convidados.
Sérgio GodinhoSérgio Godinho - "O irmão do meio" (EMI - Valentim de Carvalho)
Não é um disco original no que concerne ao alinhamento mas estão aqui reunidos 15 dos melhores temas de sempre da carreira de Sérgio Godinho cantados ao lado de pessoas de realidades musicais diversas, onde Godinho e convidado(s) de cada tema dão uma roupagem diferente às canções. Vale a pena ouvir e comparar com os originais.


Opiniões e comentários aguardam-se.

Um Natal Sonoro para todos!

20/12/2003

Melhores de 2003

Estamos-nos a aproximar a passos largos do fim de ano e decidimos fazer algo que todas as publicações estão a fazer... Os Melhores do Ano !

Elaborei uma lista, sem qualquer ordem, dos 12 álbuns de 2003 que me marcaram. Deixo a sugestão para fazerem a vossa... e quem sabe juntar concertos, singles, telediscos... o que quiserem...

Aqui vai...

TOP 12 de Melhores Álbuns Nacionais de 2003

Mesa "Mesa"

Stowaways "Why Not You?"

David Fonseca "Sing Me Something New"

Ace "IntensaMENTE"

Toranja "Esquissos"

Old Jerusalem "April"


Spaceboys "Sonic Fiction"

Dealema "Dealema"

Legendary Tiger Man "Fuck Christmas, I Got The Blues"

Mecanosphere "Mecanosphere"

Balla "Le Jeu"

Mundo Complexo "Acredites ou Não


p.s. sim... eu sei... cada dia acrescento um disco... :)

19/12/2003

Doces Mars

Os Mars Volta actuaram há coisa de duas semanas no Paradise Garage, em Lisboa, e o Sonoro foi lá espreitar.

Para quem não conhece estes meninos eles são metade dos desaparecidos At The Drive-In, que editaram em 2001 um dos discos mais aclamados pela crítica (e correctamente!).

Cedric e Omar são de El Paso (onde se passam quase todos os filmes de Robert Rodriguez e também alguns de Quentin Tarantino) e são americanos amestiçados. E talvez seja por isso a fusão musical em cima do palco.

Se de rock podemos falar também podemos juntar os adjectivos de: psicadélico, atmosférico, alucinante, demente e sombrio.

Se já me tinha despertado a curiosidade com "Concertina" (retirado do EP de estreia), o primeiro álbum foi surpresa. Mas... acho que ainda existe um futuro mais arrojado para estes moços.

Recomenda-se:


De-Loused in the Comatorium

06/12/2003

Noites frias, registus quentes

Texto: Manuel Silva
Fotografias: André Garcia (Porto), Inês Póvoa (Lisboa)


 Espaço Registus
Registus - Matosinhos
Alla Polacca e Stowaways apresentaram finalmente o disco que já há um ano planeavam em duas noites frias de finais de Novembro. A Ponte Sonora deu plena atenção ao disco, à apresentação, às bandas e à editora, tendo para tal mobilizado uma equipa no Porto e uma repórter e fotógrafa para Lisboa.

Animação e Movimento

A noite de 28 para 29 de Novembro, no Porto, não era convidativa para grandes incursões pela noite contudo o Espaço Registus – Café Cultural, longe de estar sobrelotado, estava bastante composto. Os Stowaways foram os primeiros a entrar em cena; a tendência é escrever “subir ao palco” mas este foi um concerto bastante intimista, sem palco e com pessoas sentadas no chão (primeiras filas). Não havia nada a provar, a audiência parecia já estar totalmente rendida ao som dos Stowaways e, como se veio a confirmar posteriormente, ao som dos Alla Polacca.

 Stowaways no Santiago Alquimista
Stowaways no Santiago Alquimista
No caso dos Stowaways, os temas revelam uma objectiva ligação a movimento e animação (no sentido de existirem aspectos presentes que nos fazem recordar sons de desenhos animados, sobretudo mais antigos). Possivelmente esta associação deve-se ao facto de, ao lado da área de actuação, estarem a ser projectadas imagens onde se viam desenhos (desde esquemas eléctricos a personalidades ilustres), fotografias com características que revelam décadas de existência e outras fotografias recentes mas com uma vertente algo kitche.

Nesta actuação, os Stowaways recorreram a um teclista exterior ao grupo – Fred – para reproduzir de uma forma mais fiel o som registado no disco, onde a banda contou com as mãos de Elísio Donas (Grace).

A viagem cósmica pela ambiência dos Alla Polacca

 Alla Polacca no Santiago Alquimista
Alla Polacca no Santiago Alquimista
Os Alla Polacca não são uma banda de um só estilo. Já ouvimos diversos temas desta banda, já vimos um número razoável de concertos e questionamo-nos sempre o que estará para vir a seguir. A única característica comum é o facto de ser criado sempre um ambiente em torno dos temas que estimula o lado subjectivo de cada um.
Depois de uma mudança de equipamentos algo demorada, Pedro senta-se aos teclados e faz uma introdução que, conjugada com o vídeo projectado, nos poderia encaminhar para o EP “Not the White P?”, já aqui mencionado por Gonçalo Castro. O vídeo começou precisamente com a imagem de capa do EP, entretanto os restantes elementos vão entrando em cena e a actuação passa a ter contornos bastante diferentes do que inicialmente se previa. Temas fortes em termos de guitarras, revelando um lado mais “rock” (não literalmente) fizeram a essência da performance, depois de já terem passado por lados mais vocais e pelas incursões a teclados noutros concertos.
O fascínio pela experimentação e descoberta de novos sons tem valido à banda uma forte receptividade por parte da crítica e de um público que, de um modo geral, está algo saturado da música “da indústria”. Esta passagem por uma vertente mais “ruidosa” (a prova que o ruído pode ser processado musicalmente e tornar-se interessante) merece a maior atenção e apenas peca pela morosidade de alguns temas (o que, por outro lado, é benéfico para as projecções).

Segredos revelados

No final da actuação do Porto estivamos à conversa com dois elementos dos Stowaways e com Rodrigo Cardoso, em representação da Bor-Land e dos Alla Polacca.

É preciso um sindicato dos músicos

 Stowaways no Registus
Stowaways no Registus
A nossa primeira conversa foi com os Stowaways, seguem-se os melhores momentos da conversa que contou com uma interrupção devido à descarga das baterias do gravador.

  1. O facto de terem tido um tema tão rodado nos últimos tempos, sobretudo na RDP Antena 3, criou-vos alguma responsabilidade adicional ou abstrairam-se desse “sucesso” durante a gravação do disco agora lançado?
    • João Trindade (J.T.): O Amputated Leg não representa claramente o que nós fazemos, ou só o que nós fazemos. Nós fazemos um conjunto de canções, obviamente que tenham a ver umas com as outras...
    • Nuno Sousa (N.S.): Mas nós nem reparamos que o Amputated Leg foi... Reparamos que passou na rádio, se calhar por ser uma música mais mexida...

  2. Porquê esta opção de fazerem o CD “a meias” com os Alla Polacca?
    • N.S.: Foi opção das duas bandas. Foi falado há muito tempo, ainda antes deles terem ido também ao Termómetro. Inicialmente pensámos escrever coisas em conjunto, fazer um CD único com as duas bandas... Entretanto eles ganharam o Termómetro e nós propusemos ao Alvim que em vez de termos os prémios separados, se juntassem os prémios e fizémos o CD.
    • J.T.: No princípio seriam EPs individuais das bandas mas acabou por evoluir para um disco.

  3. E já que estamos a falar de disco, como é que foi trabalhar com o Mário Barreiros?
    • N.S.: Trabalhamos pouco com ele, as duas músicas que gravámos com ele foram gravadas cada uma num dia, foi trabalho de rapidez. Mas foi bom porque é uma pessoa que sabe muito mais que nós, puxa pelas pessoas e prima pelo rigor. Nós podemos ter vontade de ter esse rigor mas não sabemos como se faz e essas coisas vão-se aprendendo.

  4. Temos estado para aqui a falar mas ainda não vos ouvi a classificarem-se em termos musicais. Notam-se algumas influências no vosso som, desde Bossa Nova até à Valsa há de tudo um pouco. O que é que vocês ouvem?
    • N.S.: Se conheceres o reportório que os Alla Polacca ouvem, acabas por encontrar uma série de semelhanças com o que nós ouvimos. É uma mistura de discos dos pais, dos irmãos mais velhos, daquelas séries de televisão e da música que nos chegava pelos dois canais e pelas rádios e acabámos por ter muito presente isso. Nós tentámos manter as coisas coesas mas somos bombardeados de todo o lado de coisas e esse bombardear acaba por fazer parte da cultura comum que conhecemos. Estamos a tentar incutir uma personalidade à música que fazemos.

  5. Mas há essa preocupação de, cada vez mais, convergir para um estilo?
    • N.S.: Não é para um estilo, até porque nós nem pensamos na música em termos de estilo. Pensamos em termos de canções. Se calhar daqui a um ano não vamos gostar das canções que estamos a tocar agora. Até decidirmos que músicas iam para o disco, foi complicado.
    • J.T.: Eu acho que vamos sempre gostar das músicas. Agora daqui a um ano as coisas podem evoluir para um outro lado e poderão fazer outro sentido que agora não faz para nós.

  6. Quais são as vossas perspectivas... Ouvi o rumor que para o ano esperam apresentar um disco apenas “Stowaways”...
    • N.S.: Estas músicas pertencem a uma fase da banda, e ficou conotada como fase porque fizémos disto um disco, e gostávamos de ter incluído mais seis temas nesta gravação e não conseguimos. Gostávamos de ter lançado um disco agora... Se calhar para o ano já temos interesse em lançar outra coisa. Neste momento é mais importante para nós o gravar e o editar do que tocar ao vivo. Nós queremos lançar um álbum, vamos ver as possibilidades.

  7. E passar pelos palcos dos festivais?
    • J.T.: Não é uma prioridade, mas era bom. Justifica-se apenas se quiserem a nossa presença lá. Agora se for para ir lá para ser vaiado, não vale a pena. Nós estamos interessados em ir mas tem de haver algum feedback por parte do público.
    • N.S.: Nós fizémos a tournée da Optimus e alguns sítios foram óptimos para tocar e noutros foi terrível. Parecia que estávamos a obrigar as pessoas a ver. Agora com um disco as coisas já fazem muito mais sentido, as pessoas já conhecem.

  8. Há sempre aquele estigma de que não há locais para a música portuguesa, vocês concordam com isso?
    • N.S.: Da parte dos músicos há muita boa-vontade, há inclusive muitos locais e muita gente que tem vontade de fazer as coisas mas, infelizmente, nós e os Alla Polacca, apesar de termos uma história tão curta, já passamos por coisas terríveis que nós nunca pensámos que poderiam acontecer. Há mais boa-vontade da parte dos músicos e das pessoas que querem trabalhar do que respeito pelo que se está a fazer. Nenhuma das bandas teria a possibilidade de fazer este CD se não fosse da forma como foi feito, que foi dividindo os custos e a ajuda do Termómetro. A mim custa-me muito ouvir as pessoas a dizer “estão à espera de subsídios?” porque não é à espera de subsídios, a questão é que vais a um lado qualquer fazer um espectáculo e queres ser respeitado e muitas vezes não acontece isso. Há locais bons, poucos; há locais de pessoas competentes que têm um amor enorme pelo que fazem e há muita gente interessante por aí que se calhar nem vai ter a possibilidade de lançar um disco.
    • J.T.: Há uma certa tendência para mudar isso. Fala-se muito das pessoas não gostarem mas há interesse... e aquela conversa de “o que se faz em Portugal não interessa” irrita-me. Irrita-nos a todos!
    • Rodrigo Cardoso (R.C. - Bor Land): A prova que há interesse é que só nesta noite tiveram mais de 200 pessoas aí.
    • J.T.: As pessoas começam a querer ouvir e a querer conhecer.
    • N.S.: Também começam a haver mais espaços e maior divulgação.
    • J.T.: Ainda esta tarde falámos de Seatle e há uns anos atrás não havia absolutamente nada lá e hoje em dia é quase uma Meca. Claro que não queremos fazer de Portugal uma Meca mas vamos tentar criar um circuito de bares para puxar isto para a frente.

  9. Se calhar falta um pouco de entre-ajuda nas bandas...
    • N.S.: Falta um sindicato em relação aos músicos, porque nós não temos protecção em relação a nada. Se o concerto de hoje corresse mal nós teríamos centenas de contos de prejuízo...

  10. Faz falta de programas de televisão para promover novas bandas?
    • N.S.: O que temos (Operação Triunfo e programas do género) são concursos e eu sinto que aquilo engana muita gente. “Estamos a apostar em música portuguesa”, não estão... Estão é a dar roalties, a fazer render os roalties de músicas que já sairam há 5, 10 e 20 anos, com as mesmas pessoas de sempre e não estão a promover música portuguesa. Com o dinheiro que gastam com as pessoas que têm lá, gravam 10 ou 12 bandas boas.


2004 será um ano com diversos lançamentos Bor Land
Estivémos à conversa com Rodrigo Cardoso para conhecer mais a fundo esta editora independente do Porto

  1. Pouco mais de 3 anos Bor Land, 11º disco, pode-se dizer que tem corrido tudo a vosso favor?
    • Tem sido simpático. As coisas têm crescido gradualmente. É um acumular de pedacinhos e agora este é o “pedacinho grande”.

  2. Será este o passo que faltava para colocar os discos Bor Land nas lojas?
    • Se calhar... Agora também temos outros processos de distribuição, como a Internet. Mas a ideia é ir somando pontos para poder ir crescendo.

  3. Novos nomes no catálogo, alguma coisa que já possa ser adiantada? 2004 vai ser um ano recheado?
    • Sim... Logo nos primeiros meses temos previsto o disco de Olga, uma banda de Lisboa; vai sair também Special White Noise, do Porto; The Unplayable Sofa Guitar (Viana do Castelo); The Boy With The Broken Leg, também de Lisboa, da IC Colective; Wave Simulator e depois vai-se vendo.

  4. E compilações?
    • Isso vai sair de certeza. É obrigatório. Não sei bem quando. Queria reformular as compilações que tenho feito, tem de ser algo novo.

  5. As compilações têm sido a melhor forma de chegar ao público?
    • Também... Tem uma margem muito grande que me permite fazer uma grande promoção com as compilações, quer promover a editora, quer diversas bandas de uma só vez, o que permite fazer brincadeiras interessantes.

  6. “Why not you?” é o disco do ano do catálogo Bor Land?
    • Eu não sei. É um bocado difícil para mim gerir a opinião visto que eu estou também dentro do disco. Se fosse a escolher os momentos grandes da Bor Land em 2003 escolheria dois momentos: este disco, pelo trabalho em si, foi um trabalho que demorou 12 meses a concretizar, não foi de um dia para o outro e de relevar também Old Jerusalem, um disco que saiu em Janeiro.

  7. Há um bocado falávamos dos lançamentos para 2004... Também vai haver logo surpresas no início do ano?
    • Fevereiro – Olga, é o primeiro trabalho Bor Land em 2004.

  8. Das bandas com quem já trabalhaste até agora, relançarias todas novamente?
    • Outra vez! E se tivesse de escolher seria Old Jerusalem porque eu gosto mesmo de trabalhar com o Francisco. É simples e eu gosto de artistas que sejam simples, tudo muito objectivo, directo.

  9. Foi esse disco foi o que despertou a crítica e que levou que depois todas as compilações e o “Not the white P?”, que foi o disco anterior ao apresentado esta noite, fossem merecedores de maior visibilidade?
    • Sim, e o “Not the white P?” também tem tido algum destaque. Foi a penúltima edição, estamos ainda a obter resultados (quer para a banda quer para a editora, e eu aqui falo pelos dois) e está a ter o resultado que nós procurávamos na altura que começamos a idealizar o disco. Está a correr como nós planeávamos.


“Vamos continuar a experimentar”
A nossa conversa com Rodrigo, entretanto, direccionou-se mais para o universo Alla Polacca, do qual o editor encarna o papel de guitarrista.
 Alla Polacca no Registus
Alla Polacca no Registus

  1. A meu ver os Alla Polacca têm “jogado à defesa”, digamos assim. Compilações, dois split-CD e só recentemente um EP sem nenhuma outra banda...
    • Porque é um bocado o nosso pensamento... À base de retalhos e de somar coisas. Nós gostamos de fazer esses Splits e de participar nas compilações. Faz parte do “traço” dos Alla Polacca. Só agora é que foi possível lançar um álbum com os Stowaways e é um álbum longa duração e não quisemos mesmo editá-lo sozinhos, queríamos editar com os Stowaways, foi um objectivo. Não iria por aí de “jogar à defesa”, era a forma que nós queríamos para nos expor. Nós conseguimos superar os objectivos iniciais da banda: inicialmente o objectivo era ao fim de dois anos ter um EP; ao fim de 2 anos temos um CD.

  2. Mas é mais fácil apresentar logo 2 ou mais nomes?
    • Eu acho que não. Teria o mesmo ou mais impacto se fosse promoção directa daquele nome. Assim estamos a promover logo dois nomes, é mais difícil gerir as ideias. Nós tínhamos a possibilidade de fazer o disco como um só, não quisemos porque queríamos trabalhar neste formato.

  3. E não há problemas de uma banda ter maior projecção do que outra?
    • No panorama geral, uns gostam de uns, outros gostam de outros. Se gostassem só de um, algo estava mal. As coisas são interessantes porque existe o efeito “arrasto”: se estiverem a promover os Stowaways estão a promover Alla Polacca e vice-versa e é isso que nos leva a fazer isto desta forma.

  4. E ao vivo, também pensam manter essa forma?
    • Depois do de hoje e de amanhã (dia 29/11) ainda não temos marcado mais nenhum mas será sempre com todo o gosto.

  5. Será uma boa forma de promover a música portuguesa, levar 2 ou 3 bandas a um local?
    • Visto que as bandas quando se apresentam por norma é com recurso a singles... Se pensarmos do ponto de vista financeiro e estrutural, as co-edições são o futuro, inclusive em palco, claro.

  6. Alla Polacca, diversos trabalhos, diversos estilos, o que é que se pode esperar?
    • Nos espectáculos começa a haver público diferente porque já começa a haver a curiosidade de ver algo diferente. Vêem um concerto, vêem dois, vêem que foi algo diferente e ganham interesse em ir ver um terceiro concerto. É muito habitual fazermos versões de versões de versões, já nem sei quantas versões de uma música e vamos continuar a experimentar. Não sabemos bem o que vai sair. Temos em mente gravar, ainda não sabemos o que vamos gravar mas não sei sequer se vai seguir estes formatos. Pode ir para coisas mais reduzidas ou para coisas mais completas. Provavelmente vamos trabalhar com outro produtor, já trabalhámos com vários produtores, sobretudo: Inês Lamares com Emanuel Cabral, que gravou o disco de piano, e o Paulo Miranda. Até aí procurámos ser bastante diversos, mas já sabíamos que este disco teria de ser gravado por Paulo Miranda porque a sonoridade que ele tira é muito própria mas não sei como vai ser para o futuro.

  7. As projecções vídeo que já se têm tornado habituais, já são uma preocupação estética da banda de concerto para concerto?
    • Trabalhámos com pessoas diferentes nas projecções e dependem de concerto para concerto, das pessoas que vamos conhecendo e é algo que tentámos conciliar com a música. Usámos isso muitas vezes, às vezes nem está directamente associado ao que estamos a fazer musicalmente. Para este concerto houve a preocupação de associar as imagens ao som.

04/12/2003

Reino Trágico

Os No Doubt editam esta semana uma colectânea que reúne 10 anos de carreira. O disco "The Singles" junta todas as canções escolhidas pela banda california para mostrar 4 discos de originais. Temas clássicos como "Spiderwebs" ou "Just a Girl" fazem parte do lote e também um inédito "It's My Life" (um original dos Talk Talk).

Para além deste "best of" podem também encontrar em algumas lojas a "Boom Box", uma caixa de luxo que junta esta colectânea, um disco de raridades e lados B, um DVD com todos os videoclips e "Live in Tragic Kindom" em DVD. E este é um dos grandes presentes de Natal para quem gosta desta banda tresloucada.

Eu tive a oportunidade de privar com Gwen Stefani e companhia em 2000, se não estou em erro, e mesmo sem ter ficado com a melhor opinião sobre eles como "figuras públicas", como músicos acho-os fantásticos. E felizmente tive a sorte de ter visto o showcase que aconteceu no Paradise Garage só para convidados.

A pergunta que deixo aqui é: para quando um concerto a sério em Portugal ?

Em breve.... Gwen Stefani com um disco a solo... e promete !

27/11/2003

Comenta...

Decidimos tomar a mais polémica decisão de sempre: mudámos o sistema de comentários !!!

Depois de vários problemas com mensagens que eram postadas e nunca chegavam a aparecer excepto no contador... e outros problemas que tais... foi a machadada final !

Agora com sistema novo e visual diferente, TU (sim, tu) podes deixar aqui o teu comentários (anteriormente conhecido por pensamento).

Nova edição da Mondo Bizarre



Esta é a capa do número #17 da zine Mondo Bizarre que se encontra disponível nas melhores lojas de discos, quiosques, discotecas, espaços públicos e até cabarets deste país.

Podem encontrar:

MONDO BIZARRE # 17 - Novembro de 2003
(edição de 4º aniversário, capa Art Chantry)

The Dirtbombs – The Mars Volta – Art Chantry – Matmos – X-Wife – Johnny Cash – The Twilight Singers – Elliott Smith - Animal Collective – Billy Childish – Rufus Wainwright – A Silver Mt. Zion – The Legendary Tiger Man – Vic Chesnutt – The Strokes - Loosers – Domino – Crammed Discs – Josh Rouse – Stealing Orchestra – 3 x BSO – Danko Jones – Sick Of It All – Desert Sessions – Iggy Pop – The Anamoanon – Firewater – Dealema – Belle & Sebastian – Sun Kill Moon – Outkast – Nautical Almanac – Paul Westerberg – Careless Talk Costs Lives.

Com alguns textinhos deste vosso amigo que vos escreve...

E não se esqueçam da festa do 4º aniversário no dia 12 de Dezembro em Lisboa (Santiago Alquimista) com More República Masónica, X-Wife, Old Jerusalem e DJ Barry 7 (dos Add N To X). Não podem faltar !

21/11/2003

O pássaro que cresceu...

Durante o último fim-de-semana tive a oportunidade de assistir a um brilhante concerto de Martina Topley-Bird. Lembram-se quem é ?

Esta é a senhora que acompanhou Tricky Kid nas suas primeiras aventuras a solo, como "Maxinquaye", "Angels With Dirty Faces" e "Nearly God".

E uso o adjectivo brilhante pois considero a sua voz uma luz ao fundo do túnel, não que a música que ela compõem tenha algo de negro, no sentido do seu mestre. Este concerto encerrou a digressão europeia de apresentação do seu disco de estreia "Quixotic" e a amalgama de sons presentes em cima daquele palco foi fantástica.

Em breve espero puder escrever mais sobre este disco e concerto... quem sabe numa DIF ao pé de vocês...

20/11/2003

Portugal na boca do Mundo com Furtado

Este título serve para falar de dois artistas dos quais eu sinto uma enorme empatia:

Paulo Furtado e Nelly Furtado

Paulo Furtado é o homem por trás de WrayGunn e Legendary Tiger Man, que editou dois discos depois da sua saída dos míticos Tédio Boys.

Com Wray Gunn a mistura de rock e blues, proxima de um Jon Spencer Blues Explosion ou Boss Hog, já o tinha feito andar um pouco pela Europa, mas com o seu projecto a solo, Legendary Tiger Man ainda chegou mais longe. A edição da "Rock & Folk" de Agosto (se não estou em erro) foi provavelmente o início da exportação desta "one man band". Furtado a solo toca quase tudo, bombo, harmónica, guitarra e canta (obviamente). Depois da edição em Espanha, França e Japão, este músico português regressou a casa e re-gravou o EP "Fuck Christmas, I Got the Blues", que acabou por se tornar num álbum. E contou com a colaboração de Paulo Miranda, pertencente aos Unplayable Sofa Guitar, e mais alguns convidados. Um dos melhores discos para se oferecer neste Natal !



E por falar em Natal... não podiamos deixar de mencionar "Folklore", a nova pérola pop da menina Nelly Furtado.

Este é o sucessor do multi-platinado "Whoa Nelly!", que rendeu à filha de açoreanos vários Grammys e o reconhecimento mundial. O seu novo trabalho é editado no dia 24 de Novembro e é um disco bastante diferente do anterior, numa clara evolução sobretudo devido à sua nova condição de mãe, segundo a própria afirma. Este disco pode-se dizer encontra-se dividido em dois lados: A e B. O lado A é mais alegre, ritmado e bem disposto (mais próximo do trabalho anterior dela). O lado B é mais calmo, introspectivo e místico. Os exemplos disto são o single "Powerless" e a canção "Island of Wonder" (com a participação de Caetano Veloso). Um disco para ouvir sem preconceitos...

16/11/2003

Stowaways mostram-se em CD

Em Setembro falei aqui dos Stowaways e referi a responsabilidade que a banda tinha para provar que há mais que o single promocional que passou com alguma insistência no 3º canal da rádio pública. Já na altura se fazia prever, dentro do meio, uma ligação entre os Stowaways e Alla Polacca, no final deste mês concretiza-se a ligação.

Os Alla Polacca e a sua editora (Bor-Land) sempre foram bastante apologistas do formato compilação e split-CD. Depois de participações em todas as compilações da sua própria label, do CD a meias com o Old Jerusalem e do mais recente "Not the White P?", o agora quinteto da Sra. da Hora (Matosinhos) divide o espaço com os Stowaways.
Neste disco são apresentados 9 temas dos Alla Polacca e 8 dos Stowaways. Os Alla recorreram ao estúdio de Viana do Castelo e ao produtor Paulo Miranda, os Stowaways contam com dois temas produzidos pelo conhecido Mário Barreiros e os restantes por Budda.

As apresentações de "We have made thousands of lonely people happy: Why Not You?" estão marcadas para as 23h30m nos dias 28 e 29; a primeira data destina-se ao Espaço Registus - Café Cultural, em Matosinhos, e a segunda ao Santiago Alquimista, em Lisboa. Os preços os bilhetes variam: no Porto bastam 3,00EUR (já há muito tempo que não via concertos com preços a baixo dos 5,00EUR); já em Lisboa os requisitos são ligeiramente mais elevados, apontando para os 5,00EUR. Em ambos os casos é possível adquirir ingresso e CD por apenas 10,00EUR (o preço sugerido pela editora apenas pelo CD é de 13,00EUR).

Why not you?


Mais informações em: http://allapolacca.org/stowaways/
ou através do e-mail da editora Bor-Land: bor_land@hotmail.com

12/11/2003

Alla Polacca "Not the White P?"


E agora ?

Os Alla Polacca estreiam-se finalmente em nome próprio e de uma forma bastante arriscada, por sinal, mas para alguns cativante.

“Not the White P?” é o título do EP que o colectivo nortenho editou à algumas semanas, depois de algumas aventuras em colectâneas e EP a meias com outros companheiros.

E porquê é uma edição arriscada ?

Este EP é composto por 4 temas quase exclusivamente interpretados ao piano. De uma forma bastante minimal, o piano ganha o lugar de relevo neste trabalho. O som desenvolvido faz-me lembrar peças clássicas de Debussy ou Shostakovich. E ao mesmo tempo a forma como grupos actuais (como Radiohead ou Muse) usam o piano em composições ligadas ao rock. Esta é a parte cativante.

Para finalizar e visto ser “Not the White P?” um disco conceptual, não podia deixar aqui a pergunta:

Afinal o que é o P ?

Para além deste disco, podem ler também sobre Mecanosphere, Fatimah X, Lolly and Brains e Stowaways na Mondo Bizarre (edição de Dezembro).

11/11/2003

Cidade de Deus

Venho escrever novamente sobre cinema e desta vez impulsionado pelo meu caro colega MS.

O que me leva a "postar" é a edição em DVD do filme "Cidade de Deus". Este filme de Fernando Meireles já foi exibido nas salas de cinema em Portugal, e com bastante sucesso, e agora vai ser editado em terras lusas.

Esta película fala sobre a "evolução" (será que se pode usar esta palavra) da favela da Cidade de Deus. A fotografia é fantástica, o enredo, os actores e a realização. Segundo os últimos rumores será mesmo nomeado para os Óscares 2003, para melhor filme estrangeiro.

Deixo aqui alguns links para vos cativar...



Comprar: Edição Espanhola e Edição Brasileira

Site Oficial (em português)

Já agora, oiçam a banda-sonora que também vale a pena...


10/11/2003

Parabéns !

Depois deste "triste" incidente com o concerto dos Blur, os Blind Zero ganham o prémio regional para "Best Portuguese Act" da MTV.

É a primeira vez que a cadeia de TV norte-americana atribui um prémio a um grupo/artista português e eu como "seguidor" só posso estar contente.

Para trás fica uma cerimónia muito fraca... apresentada por Christina Aguilera (:|) e sem grande história... (para variar nas cerimónias de entrega Europeias)...

Quando ao resto... fica para outra altura...

Alberto Almeida/Câmara Oculta


(mais informações em MTV)

Fotografia gentilmente cedida por Alberto Almeida/Câmara Oculta

05/11/2003

Blind Zero não tocam hoje com os Blur

O concertos dos Blur, promovido pela agência Smog (não confundir com a banda com o mesmo nome), já há muito que estava anunciado sempre referindo o sexteto portuense como banda de abertura. Hoje os Blind Zero apresentaram um comunicado à comunicação social onde justificam o porquê de hoje mesmo terem optado não subir ao palco do Coliseu dos Recreios.

O comunicado segue-se na íntegra.

COMUNICADO

O grupo BLIND ZERO lamenta informar que, por razões alheias à banda, não irá realizar o concerto, hoje dia 5 de Novembro com a banda inglesa BLUR.

A razão prende-se com a coacção exercida pelos promotores do concerto, empresa Smog, no sentido de que a banda aceitasse abdicar do direito de autor que lhe são, pela realização desse mesmo espectáculo, devidos.

Os Blind Zero manifestam a sua total incredulidade, perante o facto de, com tal facilidade, se procurar negar aos artistas o que de mais inalienável decorre do seu direito autoral. E a sua mais completa perplexidade quando lhes é proposta uma quantia monetária a titulo de compensação "simbólica".

Não constituindo, infelizmente, caso único, não julgamos admissível tal situação, muito menos a 24 horas da realização do mesmo. Tanto mais que este espectáculo está a ser publicitado há várias semanas, com uso explicito (nomeadamente no cartaz do evento) do nome Blind Zero.

È com grande desgosto, que a banda vê toda esta situação, não só pelos motivos atrás descritos, mas também, pelo imenso prazer que teria em tocar com os Blur.

- Fim de citação -

Pianistas (não) há muitos

Penso que é a primeira vez que vou escrever sobre cinema... Confesso que não sou crítico de cinema nem disponho de um background vasto para poder opinar de forma lúcida sobre o assunto.
Acabei de chegar de mais uma sessão de cinema do ISEP|Cultura (e desde já saúdo a Doutora Teresa Tudela pela persistência e trabalho que tem desempenhado ao longo destes anos), o filme desta terça foi um filme que para mim era totalmente desconhecido mas também é um facto que não devemos limitar-nos aos filmes que a máquina de Holywood anuncia nos autocarros, nas revistas, nos jornais, nas paragens, nas rádios (inclusivé públicas), nas televisões, na Internet e no que estiver para aparecer. "O Pianista", a realização de Roman Polanski que lhe valeu uma Palma de Ouro no festival de Cannes, está longe de ser um filme Holywoodesco ou uma história com um final feliz.
Basicamente temos o olhar de um pianista Polaco (e Judeu) que se vê confrontado com a invasão Nazi. A principal diferença para outros títulos com a mesma temática é que este pianista de nome Wladyslaw Szpilman existiu e a visão do filme é a visão que este pianista deixou imortalizada no livro com o mesmo nome que o filme (http://www.uk-fusion.com/books/the_pianist.html) com alguns toques da vivência do próprio realizador (descritos no booklet disponibilizado à entrada do auditório, como aliás tem vindo a ser costume).
Numa primeira fase temos a família e as fugas em conjunto, numa segunda fase é o desespero, a solidão, os instintos mais selvagens do ser numa tentativa desesperada de sobrevivência... As fugas, os abrigos, a fome e a vontade de tocar piano que se volta a concretizar quando, num local já totalmente arrasado, um soldado Nazi o encontra. O soldado rende-se aos encantos da música e dá-lhe uma oportunidade para se esconder. Algum tempo depois, após a chegada soviética, o mesmo soldado implora a um dos ex-prisioneiros Judeus que encontre o pianista e que este tente conceder-lhe a mesma oportunidade de viver que ele lhe concedeu. Mereceria? Não teria estado na origem de imensos terrores? Durante o filme fiquei a pensar nisto... O primeiro impacto é de pena mas não se pode fazer uma análise pela parte. Teria de haver um filme baseado na vida daquele militar para perceber quem ele era.

Poderão ser encontradas semelhanças com filmes como A Lista de Schindler ou mesmo A Vida é Bela mas a forma mais radical e crua representada em O Pianista acabam por lhe conferir um lado talvez mais realista. Chocou-me sobretudo o desespero pela sobrevivência, as fugas, a tentativa de obter coisas tão básicas como água e comida e o desespero maior de ter uma lata de comida e não ter como a abrir... Confesso que me marcou.

Mais sobre o ISEP|Cultura em http://www.isep.ipp.pt/cultura/

04/11/2003

In Her Space "No Body Needed"



"Claps removed for listener's pleasure" é a frase inscrita no interior de "No Body Needed", o disco de estreia dos In Her Space. Gravado ao vivo no Teatro Taborda em 2002 serve para demonstrar, da melhor maneira, todo o potencial que esta banda tem, sobretudo em cima do palco.

Verdade seja dita que não são escritores de canções, no formato clássico de rádio com um refrão orelhudo, mas tem composições bem estruturadas dentro de uma estética planante, "à la" Radiohead ou Sigur Rós. Quem ouve este disco tem também a sensação de "deja vú", sobretudo devido às influências, o bicho papão da música moderna. Mas não atrapalham, ou não deviam atrapalhar, na opinião sobre os In Her Space.

Quando se ouve "Demons in Cars" ou "Careless Whisper" (sim, a música que George Michael popularizou nos Wham!) tem-se a noção que existem boas direcções para um caminho longo e sinuoso mas positivo.

Critica escrita para a Mondo Bizarre.

Houdini Blues "Extravanganza"



"Extravanganza" é o título do mais recente trabalho dos alentejanos Houdini Blues. Como é explicado no interior do disco "Extravanganza" quer dizer "capricho literário, musical ou dramático" ou "composição fantástica". Não acredito que este quinteto tenha "a mania das grandezas" em relação ao seu trabalho mas antes a ousadia de dar mais um passo em frente depois da estreia com "True Life is Elsewhere". Arriscam a edição de autor e muito bem sobretudo devido a temas como "Tragic Queen" (onde Armando Teixeira deu uma mãozinha na produção), "Lobo Bom" (as composições em português destacam-se) ou "...Entre Ses Doigts" (uma música que respira Pop Dell' Arte). O ponto negativo desta aventura é a falta de meios técnicos para uma melhor gravação.

Ouvindo os dois álbuns de Houdini Blues, de seguida, sente-se a evolução de uma banda rock sem preconceitos e que faz com que o vento sopre tanto para o lado mais árido, quer para o lado mais verde de um vale ou planicíe.

Visitem a página oficial dos Houdini Blues.

Critica escrita para a Mondo Bizarre.

28/10/2003

O Homem na Cidade...

Com algum atraso mas não podia deixar de postar aqui o meus sinceros parabéns e enorme apreço pelo artista que é Carlos do Carmo.

É daqueles cantores que me faz arrepiar cada vez que o oiço interpretar alguma canção.

E acho que tem sido coerente ao longo de 40 anos de carreira, que os celebrou no Coliseu dos Recreios em dois concertos únicos.

Parabéns Sr. Carlos do Carmo ! Parabéns !



p.s. afinal existe página oficial... www.carlosdocarmo.com (mas fica a nota que nos motores de busca não aparece...)

22/10/2003

Abaixo de Zero...

Foi assim que Jorge Palma disse que se iam chamar os Blind Zero se fossem a banda suporte dele na próxima digressão...

Ontem à noite, os Blind Zero encheram o palco do auditório A da Antena 3 em mais um concerto promovido pela "Portugália" de Henrique Amaro.

O concerto centrou-se 99% em temas do novo disco "A Way to Bleed Your Lover" demonstrando que ao vivo as canções do grupo liderado por Miguel Guedes tem outra força... outra energia...

Confesso que o disco parece-me demasiado de estúdio com um papel muito importante do produtor Mário Barreiros, não querendo isto dizer que não goste. A sonoridade tipicamente "deserta" com referência claras a Elvis Presley ou Springsteen transporta-os para outro plano, que curiosamente está bastante na moda.

O concerto durou pouco mais de 1 hora, devido aos horários de rádio, e terminou com os belos momentos "Sad Empire" com Miguel Guedes a ser acompanhado pelo teclado de Miguel Ferreira, os dois sós em palco... e "Another One" para mim a grande canção do álbum "One Silent Accident".

Fica aqui a nota positiva também para a digressão intitulada "Tour de Force" que termina por pequenos bares, clubes e discotecas...

Podem ler os comentários dos próprios BZ no Blog da Digressão.

18/10/2003

Belo início de fim-de-semana

Bem, desta vez vou ser explicitamente subjectivo e falar de algo que me agradou particularmente. Acabei de chegar do Blá Blá, onde Old Jerusalem e Bonnie 'Prince' Billy se apresentaram ao vivo. Ambos os projectos subiram ao palco com dois músicos e ambos contaram com um ou outro tema "a solo".

Cabos (dos trabalhos)
Francisco começou da pior forma; a sua guitarra teimava em não dar som cá para fora. Aqui notou-se claramente a falta de roadies e técnicos para resolver o problema com a maior brevidade possível e sem aspectos que se podem considerar de alguma imaturidade.
Depois de resolvidos os problemas, a dupla Old Jerusalem acabou por brilhar, com o público do seu lado. Nestas coisas há sempre o risco da primeira banda, sobretudo sendo portuguesa, ser quase que "despachada" pela audiência, o que não foi o caso e os temas de April e do split-CD com os Alla Pollaca serviram de petisco para a "jantarada" que estava para vir.
Contrariamente a concertos anteriores, Francisco e Miguel optaram por usar apenas guitarras como base musical, deixando de lado a caixa de ritmos que usaram nos seus primeiros concertos.

Simplicidade = beleza
Há uns anos atrás o motor de pesquisa Altavista dizia que simplicidade era beleza. Não podia estar mais de acordo no que toca a Will Oldham. Nem o facto de ser um dos nomes mais importantes do mundo na onda "new country" / "americana" faz com que este song-writer crie qualquer tipo de distâncias com o público. A forma como olhava os presentes, logo nos primeiros temas, revelava uma simplicidade e proximidade pouco usual em artistas deste nível. Contudo a interacção com o público não foi abundante (três breves momentos).
Para uma pessoa que não é definitivamente daquele meio e que pouco dormiu, como era o meu caso, o número de canções acaba por se tornar excessivo mas isso não tira qualquer tipo de magia ao espectáculo.
Um momento curioso foi a dedicatória de um dos seus temas à dupla que abriu a noite.
Durante metade (ou mais) do concerto, um ruído irritante persistia no som... Só já num estado avançado da actuação é que são desligadas as luzes que estavam a provocar aquele conflito de frequências (não, não vou entrar no campo da Física para explicar o fenómeno, até porque corro o risco de cometer alguns erros).

Old 'Prince' Billy
Não é difícil encontrar pontos de contacto entre os dois projectos... Estilos musicais, forma de olhar para a plateia (e ambos fazem expressões de cara dignas de registo), número de elementos em palco são apenas alguns dos aspectos comuns, que talvez sejam justificáveis pelo facto de Francisco (o mentor dos Old Jerusalem) assumir a influência de Oldham nos temas que compõe.
Concertos assim dão gosto e valem bem mais do que os 11,00EUR pedidos pelo bilhete.

Resta-me dar os parabéns à co-organização MICE e "O Rouco" pela coragem que tiveram em investir neste concerto. Mais eventos destes um pouco por todo o país precisam-se.

10/10/2003

Prémios MTVE Portugal - os nomeados são...

David Fonseca
Blind Zero
Primitive Reason
Fonzie
Blasted Mechanism

Foram finalmente anunciados e ao contrário do que algumas pessoas pensavam o voto não foi para artistas da música ligeira... só pesos pesados...

Agora e até dia 6 de Novembro (que vontade que tenho de lá estar) podem votar por aqui e podem saber todas as informações no site oficial da MTV.



Último adeus ao velho Alvalade...

Pois é... acabei de descobrir que a RTP vai transmitir amanhã (!!!) 6ªfeira, todos os concertos do Festival Galp Energia ao Vivo.

Este festival foi o encerramento oficial do velho Estádio José de Alvalade e contou com a presença de Xutos & Pontapés, Sérgio Godinho, Caetano Veloso, Pedro Abrunhosa, David Fonseca e Cabeças no Ar no palco principal. No secundário, Mesa, Sloppy Joe, Micro, Yellow W Van e Toranja intercalaram com os restantes.

Foi um dia cheio de calor, mais gente do que eu estava à espera e infelizmente muito trabalho...

Quem não esteve lá pode assistir a um bocado dos espectáculos via RTP1, num programa de 2 horas que irá começar pela 1h40 da manhã (Guia RTP).

Se não puderem ver... programem o vídeo !

Quotas da rádio voltam a passar pelo parlamento

Depois de muitos debates da treta na televisão e na rádio, o parlamento volta a falar em quotas de rádio. O que se pretende, dizem eles, é apoiar a música portuguesa.
Não deixa de ser curioso que, desde 1992 (se não estou em erro), existe uma lei que define que as rádios devem passar 40% de música portuguesa (excepto as que requererem o estatuto de rádio temática). Rapidamente se observa que muito poucas rádios cumprem estes valores e nunca se viu um artista ou uma editora a levantar processos legais que seriam garantidamente ganhos porque a lei é clara. Como é que os nossos políticos querem resolver a questão? Ajustando os limites, que podem ir até 50% das músicas emitidas pelas rádios. Se uma rádio não cumpre os 40%, irá cumprir qualquer outro limite? Quem vai fiscalizar? As editoras? Os músicos? O Estado?

Música portuguesa ou europeia?
Antes de colocarmos números nas coisas devemos questionarmo-nos: queremos música portuguesa em abundância? Será que o número de ouvintes regulares de rádio se vai manter ou aumentar com a entrada de mais música portuguesa nas rádios? Sem fazer grandes análises, não creio que funcione e um exemplo claro disso é que o grupo de rádios que lidera as audiências não cumpre cerca de metade dos requisitos actuais (e o principal canal do grupo, que alguém escreveu algures que cumpria, tem muito pouca música), mas por outro lado temos as rádios públicas a apostar cada vez mais em trabalhos nacionais e a obterem bons resultados.

O que me vem mais à ideia nestas leis dos limites da rádio é que contrariam tudo o resto. Fala-se de uma Europa mais aberta, de maior liberdade na União Europeia, na criação de condições para intercâmbio artístico e, depois, está-se a querer que as rádios fiquem mais fechadas ao mercado Europeu impondo mais música portuguesa. E o resto da Europa? E o resto do Mundo? Um sistema de quotas na linha do que é defendido pelo CDS/PP representaria apenas 50% (no máximo) para música de todo o mundo onde não houvesse relação directa ou indirecta com Portugal. Se tivermos em linha de conta que mais de 60% da música comercializada em Portugal pode ser classificada como americana, a proporção seria 30% desta origem no nosso sistema de quotas e apenas 20% para o resto do mundo (onde se inclui a Europa), o que significa que se estão a colocar grandes obstáculos às bandas Espanholas, Francesas, etc. para entrar no nosso mercado e, desta feita, ficamos com os horizontes cada vez mais limitados. Se os restantes países da União tomarem medidas semelhantes, corremos o risco de nos transformarmos numa Europa falsamente unida, em que o princípio de união só serve interesses económico-financeiros e não interesses sócio-culturais.
Qualquer tipo de quota é algo constantemente problemático mas, a existir, que ao menos salvaguardasse os interesses europeus para que realmente se criasse uma cultura europeia, que passa necessariamente pela criação de circuitos musicais à escala da União. As rádios têm um papel preponderante no sucesso destas iniciativas.

Em que equipa é que jogas
Algo que não passou despercebido a ninguém que assistiu ao debate através da ARtv (porque o Serviço Público de Televisão limita-se a acompanhar apenas questões polémicas e debates do estado da nação, e este Governo ainda manda extinguir a RTP2, ou seja, a emissão de debates parlamentares vai tornar-se apenas acessível às elites, mas isso são outras conversas), reparou na presença do homem forte da subsidiária da maior multinacional de música (Tozé Brito, da Universal Music Portugal). Não deixa de ser uma presença importante mas por um lado temos a voz do Sr. Tozé Brito que quer mais música portuguesa, por outro lado temos os interesses da editora que quer promover Eminems, No Doubts e afins. Quer isto dizer que a mesma editora que está a dar prémios às rádios para levarem animadores e ouvintes aos EUA para verem concertos a troco de maior air-play dessas bandas é a mesma que quer mais música portuguesa nas rádios, que a partir do momento que as rádios passem mais também investirão mais, etc., etc., etc.. Acontece que isto é falacioso, é o tipo de resposta politicamente correcta para justificar não-se-sabe-bem-o-quê; as rádios queixam-se que não passam mais porque não há muita coisa, as editoras dizem que só fazem mais quando as rádios passarem mais o que já existe, se as rádios passarem mais o que já existe deixa de haver necessidade de fazer mais porque é sinal que já está o mercado constituído.

Exportação condicionada
Com o tipo de propostas apresentadas e com a lei em vigor, Portugal não demonstra qualquer tipo de abertura à música estrangeira, sobretudo a europeia, e isto pode vir a ser uma arma usada contra nós. Com que propósito é que uma distribuidora Alemã vai querer distribuir discos de uma banda portuguesa se, por outro lado, não consegue colocar os discos das bandas alemãs que distribui no circuito português? Ou há realmente o factor qualidade ou então essa empresa irá preferir dar relevo a uma banda alemã que faça algo parecido porque sabe que vai conseguir melhores resultados. Portanto os artistas portugueses devem pensar bem se lhes interessa ficar confinados a este canto à beira mar plantado (e aí defendem as propostas e o cumprimento da actual lei) ou se querem alargar horizontes e permitir a criação de condições sócio-culturais para uma União Europeia plural (e aí estão contra este esquema de limites ou defendem limitações que ofereçam mais-valias aos nossos vizinhos europeus).

09/10/2003

Xutos & Pontapés rolam...

Como não podia deixar de ser tinha de deixar aqui umas linhas sobre a vinda dos Rolling Stones a Portugal. E sobretudo sobre a actuação dos Xutos.

Sobre as "pedras rolantes" aquilo que se pode dizer é... Mick Jagger continua com uma energia incrível, raramente pára e sabe o que precisa de fazer para animar um público. O Keith Richards vai-se aguentado mas como diz o Robin Williams no seu espectáculo da Broadway "Quando o Mundo acabar ele será o único humano sobrevivente e estará na companhia de 5 baratas..." :D

Acima de tudo aquilo que mais me impressionou foi o palco... confesso... já sabia como era e como funcionava mas fiquei de boca aberta com a estrutura...



E daqui partimos para os Xutos. Foi para ocuparem o mesmo palco que os seus ídolos, principalmente a ligação de Richards com Zé Pedro (e que entrevista notável no dia seguinte no Jornal da Tarde da RTP1), que a banda liderada por Tim gastou alguns trocos...

Durante 30 minutos tocaram "Sémen", "Fim do Mês" (podiam ter escolhido outra), "Homem do Leme", "Remar Remar" (uma das minhas favoritas), "Vida Malvada", "Contentores" e "Casinha" (as duas últimas já com o público todo em delírio).

Ficam na memórias de todos !

Lei(s) da Rádio

Nos últimos tempos a falta de tempo, os novos projectos e a materialização da PS as missivas aqui tem sido poucas mas espero retomar assim um ciclo.

O 1º que aqui ponho está ligado directamente com a minha profissão e o meio onde trabalho, a Rádio.

Nos últimos dias, e desculpem as imprecisões de datas mas o cansaço também ataca, foi debatido no Parlamento Português duas propostas de lei para a "Lei da Rádio".

Uma apresentada pelo CDS/PP e outra pelo PS, com pequenas alterações de fundo mas no geral o que diferencia as duas são os valores propostos.

Quem tiver vontade e muita paciência para ler tudo visitem o Blog do Cimbalino que gentilmente postou lá tudo.

Aquilo que me leva a escrever nisto tudo é... quem vai regulamentar as rádios ?

Fica a pergunta no ar para futuras missivas tentar adiantar mais com a ajuda do meu caro Manuel.

26/09/2003

Palmas para Palma

A RTP 1 (infelizmente dentro de pouco tempo será a única RTP por via hertziana) irá transmitir na próxima noite de Sexta para Sábado, por volta das 0h15m, um concerto de Jorge Palma. Se em vez de fazerem mega-debates de 5 horas sobre o estado da música portuguesa fizessem este tipo de gravações e transmissões com regularidade é que faziam realmente algo pela música portuguesa. Venham mais transmissões assim!
Nota: segundo informações divulgadas no intervalo de Hable con Ella, este concerto apareceu "atirado" para a 1h da manhã, 45 minutos mais tarde que a hora anunciada inicialmente no site oficial da RTP.

23/09/2003

Toranja apresentam Esquissos para todo o país

Uma das novas bandas muito apreciadas por um número alargado de pessoas vai apresentar o seu disco de estreia a Armando Carvalheda, no seu Viva a Música. Após o informativo das 17h. de dia 25 a RDP Antena 1 aposta numa das novas promessas da música portuguesa, os Toranja. A entrada para quem quiser assistir ao vivo é livre, basta dirigirem-se à RDP Lisboa, nas Amoreiras.
Durante os cerca de 50 minutos de programa será possível não só ouvir 5 ou 6 temas como também uma breve entrevista referente à banda.
Toranja

18/09/2003

Desabafo

Para além de gostar da música da Alanis, confesso que sentia uma certa atracção por aquele cabelo super-comprido... Agora acabei de entrar em estado de choque depois de ter visto novas fotografias na Rolling Stone.

Todos juntinhos é que é bonito

Sobre esta noite só me ocorrem as seguintes expressões: "Longa se torna a espera", "Quem espera sempre alcança" e "Sardinha em lata". As duas primeiras têm relação directa, a última é mais indirecta.
Devido a tarefas e projectos anteriores, já tinha ouvido falar numa tour pelas capitais de distrito por parte dos Blind Zero com fins assumidamente promocionais, o que é extremamente bom nos dias que correm. Actualmente as pessoas só compram CDs se tiverem "um bom motivo" e um bom concerto pode ser precisamente esse bom motivo que faltava. Mas inicialmente esta experiência das capitais de distrito estava prevista para o início do ano (Março, se a memória não me atraiçoa) e culminar na data de disponibilização dos discos ao público, depois foi "atirada" para pós-disco, depois início de férias escolares e, numa altura em que eu já não acreditava na realização, os Blind Zero jogam esta cartada. Fora de tempo, é certo, mas ainda bem a tempo de conseguirem ganhar o jogo e (re)abrirem o precedente de ir a todo o lado com um espectáculo. Como Miguel Guedes referiu durante a actuação "foi precisa muita persistência e boa-vontade" quer da parte deles, quer da cervejeira que patrocina a experiência.
O recinto é, de facto, acolhedor mas revelou-se ineficaz para este espectáculo. Um espectáculo pensado para 200 pessoas devia sempre prever mais umas 50 ou 100, aqui foi mais ao contrário... As 200 eram muito por-favor e algumas pessoas tiveram de se sujeitar a ver nas escadas que davam acesso ao recinto em posições não muito aconselháveis pelos médicos da especialidade. Não havia palco, o que facilmente se tornou um obstáculo para os operadores de televisão no local e para o público que entretanto teve de ficar mais atrás. Foram diversas as pessoas que se limitaram a ouvir o concerto. Como todos queriam tentar ver um bocadinho que fosse de Miguéis e companhia, gerou-se o efeito "sardinha em lata", ali todos bem apertadinhos e que o simples acto de retirar o "bloco de notas" do bolso implicava ter de pedir desculpa a pelo menos duas pessoas.
O segundo problema da noite registou-se pouco tempo depois do concerto ter começado, no 1º tema com projecções. As projecções eram feitas para o baixo tecto por cima do palco inexistente e com uma parte ainda significativa na parede (criando um efeito estranho sobretudo no vértice). Já falei aqui do impacto que estas têm nos concertos e foi uma pena não se terem criado condições para uma projecção numa tela vertical.
Quem já viu concertos de Blind Zero apercebe-se que os concertos são uma cadeia de temas de todos os seus discos e nunca apenas para promover o último. Estes concertos são uma quebra total nessa linha de pensamento e, inicialmente, estranha-se mas depois acaba por funcionar extremamente bem porque há a possibilidade de ouvir temas que nunca foram apresentados ao vivo e que noutras circunstâncias não seriam tocados, como o caso de "Return to sender". Quando já se entra no conceito do espectáculo acaba por se estranhar o oposto, a entrada de "Another One" (o único tema de outro disco apresentado neste concerto) na abertura do encore.
As questões técnicas não ficam isentas de anotações: a estratégia de aumento gradual de volume (muito utilizada) acabou por atingir valores um pouco elevados e um problema técnico que não chegou a ser detectado atempadamente pelos técnicos de serviço com a caixa made-by-Blind-Zero que também já descrevi aqui impediram que o espectáculo fosse ainda melhor. "You in your arms" perdeu assim um dos seus momentos mais interessantes. Nas condições em que os técnicos estavam a trabalhar, era praticamente impossível fazer melhor.

No final eram poucas as pessoas que não tinham na mão um postal (ver imagem em baixo) para a banda autografar. Depois de todos os autógrafos, veio o convívio. Encerrou-se assim a primeira de 19 noites (18 capitais de distrito mais auditório da RDP).

Pelo balanço da primeira noite, valeu a pena esperar por esta Tour de Force! Que outras bandas e marcas de cerveja sigam o exemplo!

Postal BZ

14/09/2003

Uma janela, televisão ligada, possivelmente um zapping

Cheguei ao local do crime (Lavra, Matosinhos) cedo de mais, apesar de não ter optado pelo melhor caminho... Isto deu-me tempo para reparar em pormenores como nas janelas do prédio em segundo plano, atrás do palco.
Quando cheguei ao local estava, no máximo, uma dezena de pessoas (excluindo organização). No palco DJs iam colocando música para ver se o pessoal entretanto chegava. No press-release que nos foi fornecido apenas era referida uma hora, 18h., para a abertura de portas. Quando cheguei ao local, perto das 20h, pensei que já não iria ver quase nada mas enganei-me. Os concertos afinal começavam apenas às 21h30m (e assim foi, é curioso ver como ultimamente as organizações andam tão rigorosas com os horários, é de louvar que assim seja), fui jantar e ver o U. Leiria - F. C. Porto. Já havia 1 golo a favor do Porto mas ainda vi 3 golos, sendo o único do Leiria aquele que mais me marcou. Não porque nunca tivesse visto golos assim, mas porque nunca os tinha visto por parte do U. Leiria. Mas deixo estes assuntos para outros blogs e para os mais entendidos.

Alanis Morissette com voz de Sandra Nasic
A primeira banda da noite, os Red Apple, segundo o press-release que nos foi fornecido, são "influenciados pelo jazz, rock e funk". Até acredito que oiçam esses géneros mas o que eles fazem soa totalmente a Guano Apes. A forma como Mané (a vocalista da banda) canta é tirado a papel químico da voz de Sandra Nasic, que é uma fórmula que até funciona quando não se domina bem a voz, assim se fugir pode-se sempre dizer que era precisamente isso que se pretendia. Há também uma certa aproximação ao rock dos finais de anos 80 e inícios de 90. Em termos de sonoridade nada de novo mas não deixa de ser uma banda que com algum trabalho de casa poderá animar uma tarde de um Vilar de Mouros, pelo menos as pouco mais de cem pessoas no recinto não ficaram indiferentes (uns pela positiva, outros pela negativa).
O "crime" desta banda foi ter tentado fazer uma versão de Can't Not, que assumo desde já que é um dos meus temas preferidos da canadiana Alanis Morissette. Bem, nunca me passou pela cabeça ouvir uma versão deste tema. O Can't Not é um tema para a voz da Alanis, só! Uma pessoa a cantar e uma banda a tocar com todos os "tiques" dos Guano Apes não pode simplesmente fazer uma versão desse tema. Se calhar outros temas de Morissette até poderiam resultar bem mas jamais este que os Red Apple escolheram.
Para uma banda formada em 2000 e pelo que constava no documento fornecido, esperava-se muito mais.

Punk-glam inglês, dizem eles; pop-punk-rock, dizemos nós
O dia escureceu e numa das janelas que observara quando cheguei ao recinto vejo uma claridade de televisão, segue-se uma sequência rápida de imagens, possivelmente alguém fez um zapping.
Dos Silky não há muito a dizer... eles falam em "punk-glam" e talvez seja a melhor definição de um modo geral mas analisando tema-a-tema há uma mistura do punk e do rock com um lado mais pop. O baterista tentava interagir com o público mas sem resultados, tal como os temas propriamente ditos. Tirando a base de apoio que a banda tinha na primeira linha, a reacção dos restantes limitava-se a uns aplausos protocolares.
A banda tem disco marcado para o final deste ano, pode ser que após o registo digital cá fora as coisas funcionem melhor em palco. Infelizmente não dispomos do single mas este está também a ser disponibilizado no Canadá, onde a banda gravou o disco.

Múltiplas sonoridades, uma só banda
Durante a actuação dos Silky iniciou-se a contagem decrescente em audiência. Os que entretanto foram embora que estiverem a ler isto ficam agora a saber que se tivessem ficado mais uma hora não iriam dar a noite por mal empregue (a entrada era livre, por isso mal empregue não será o termo correcto).
Os Stowaways têm disco a editar em breve, o tema que têm na colectânea Pop Up Songs (Amputated Leg) chegou a fazer parte dos temas mais rodados em antena no terceiro canal do serviço público de rádio-difusão, portanto a banda tinha sobre si uma grande responsabilidade: não desiludir e, ao mesmo tempo, dar provas que há muito mais para além de Amputated Leg.
A actuação não começou da melhor forma... Pouco mais de um minuto tinham tocado e a ambulância passa praticamente encostada ao palco para o outro lado, alguém se sentiu mal. Diz a tradição que as pessoas do norte gostam muito de saber o que se passa, ou seja, a quase totalidade dos espectadores foi-se pôr em redor da pessoa em apuros, pouca gente se manteve a dar apoio à banda. Perto do final do tema a ambulância volta a furar pelo meio do público, desta feita em marcha de urgência. Note-se que atrás da área técnica (onde se controla o som que ouvimos e o efeito de luzes que vemos) não havia praticamente ninguém e a ambulância podia perfeitamente ter optado por aquela rota, até deviam ganhar tempo que não tinham de esperar que as pessoas saíssem da frente... Enfim...
Comas alcoólicos de parte, os Stowaways revelam múltiplas influências e referências culturais. A forte ligação à américa latina caracteriza-se sobretudo pelos toques de Bossa Nova e Samba que entram de forma mais ou menos subtil na generalidade dos temas. Outra sonoridade que se destaca é a Parisiense apaixonada, um pouco ao estilo da banda sonora do filme "O Fabuloso Destino de Amélie", que, por si só, junta um toque de Valsa, que nos remete para a Áustria e para os Strauss (pai e filho). Não me lembro de ver tal jogo de sonoridades em nenhuma outra banda portuguesa. Esta é, de facto, uma banda nova. (Curiosamente era aquela que menos prometia no documento que foi enviado para a nossa redacção.)
Se estivémos quase dez anos sem novos valores main-stream e há uma certa urgência em encontrar novos estilos e valores, os Stowaways serão por certo um nome a seguir com atenção nos próximos anos.

Pesado, muito pesado
A televisão daquela janela que já vos falei continua ligada, será que alguém se esqueceu de desligar?
O encerramento de noite coube aos Basement (e mais uma vez parece-me que voltou a acontecer o que se registou nas Noites Ritual Rock, um desajuste entre as duas últimas bandas). A banda já conta com registos discográficos desde o ano em que se formou - 1995 - mas pouco tem sido falada. Tal como a primeira actuação da noite, também estes são uma réplica de outra banda, mais concretamente dos Rage Against The Machine. Nos primeiros tempos aparentava uma linha mais hardcore (como eles próprios reconhecem) mas a partir do terceiro tema passou a ser nítida a aproximação à banda de Tom Morello. Infelizmente para os Basement, as músicas que passavam durante as mudanças de palco eram precisamente de Morello e companhia, o que facilitou a comparação e fez com que a prestação da banda se tornasse maçadora.
Um aspecto curioso foi o uso de um megafone e da criação de "diálogos" entre duas personagens fictícias de um tema. Lamenta-se apenas a má captação do som do megafone.
Talvez funcionasse bem em abertura de noite no extinto festival Ilha do Ermal.

Som não lavrado
Em suma: alguém estava na sala de estar a ver televisão, o F.C.P. ganhou 3-1, o evento foi interessante mas algumas coisas ficaram por lavrar, a saber:
1. promoção local (faltaram cartazes pela freguesia e por Matosinhos e Porto em geral);
2. sinaléticas que permitissem um mais fácil e rápido acesso ao local (se não fossem as paragens para perguntar a uns e a outros, não me safava facilmente);
3. a qualidade de som não foi a melhor (voz e tarola sempre muito puxadas para cima, tal como aconteceu com os GNR no Porto Sounds).
Não vou falar de cartaz porque sabe-se que as Juntas de Freguesia não têm propriamente um orçamento alargado para eventos musico-culturais, já muito fez a Junta de Freguesia de Lavra. Que este seja o primeiro de muitos Rocks de Lavra!

11/09/2003

Viva a Música

Tem sido frequente a minha escrita aqui sobre rádio mas ainda não abordei aqui um dos programas da RDP Antena 1 que é um verdadeiro exemplo de Serviço Público. Viva a Música, de Armando Carvalheda, é um programa de música portuguesa e de expressão portuguesa onde é possível ouvir actuações ao vivo (e em directo) com alguma regularidade. Hoje, a partir das 17h., Armando Carvalheda recebe Zeca Baleiro, um artista recomendado por Sérgio Godinho durante a actuação no Porto Sounds. Baleiro e Godinho fazem dueto em "O Coro das Velhas", do disco "O Irmão do Meio".
Não é só a participação no disco de Sérgio Godinho que coloca Zeca Baleiro num lugar de referência. Ao longo dos últimos tempos alguns dos seus temas têm passado no Portugália, de Henrique Amaro (RDP Antena 3), e na emissão regular da RDP Antena 1... Sem conhecer muito do artista, considero que é um directo a seguir com atenção. (Quem se encontrar nas Amoreiras por volta das 17h. pode tentar um lugar no auditório da RDP, a entrada é livre.)
Apenas uma nota final: site da RDP Antena 1 precisa-se, com urgência!

10/09/2003

Finalmente...

Esta é daquelas mensagens que serve só para eu e o meu camarada Manuel Silva.

:D

FINALMENTE !

Em breve mais pormenores...

Os irmãos vieram de avião...

Durante esta semana tive a oportunidade de conversar durante alguns minutos com a banda brasileira Los Hermanos.

O propósito foi maioritariamente sobre a página oficial deles e algumas paralelas, como blogs e clubes de fãs.

Uma das coisas que mais me impressionou neles e na sua equipa é a posição que tem em relação à informação e ao público. Eles fazem tudo para ser em duas vias: dar e receber. Cada concerto que fazem 2 ou 3 dias depois, disponibilizam uma série de elementos online. Como alinhamento, fotos, vídeo(s), equipa técnica e comentários de jornais e fãs.

Outra coisa que impressionou foi as visitas.... 1500 visitantes únicos por dia !!! O Brasil como todos sabemos tem uma dimensão quer em termos demográfico, quer geográficos que nada se comparam a Portugal. Por isso quando se fala em visitas assim é natural... quer dizer... mesmo assim é fantástico !

Para além de tudo, a simpatia e profissionalismo com que os brasileiros encaram a vida e a música é demais... vale a pena conhecer e conversar durante um bocado... principalmente com pessoas tão envolvidas em tudo.

Já agora, até calhou em conversa este quarteto já ter direito a bonecos do South Park e tudo... é realmente uma loucura ! Gostava de ver os Ornatos Violeta assim... e as semelhanças, como eles próprios viram, não são assim tão poucas.



Cliquem aqui para conhecer o site oficial dos Los Hermanos ou então para o Blog.

p.s. em breve vou deixar aqui um post para ouvirem uma sessão acústica dos Los Hermanos... fiquei impressionado !