Aquele que foi o primeiro festival de música moderna em Portugal é para mim um poço de contradições. E vou explicar porquê.
Vilar de Mouros é a minha primeira lembrança de festivais quando em 1996 regressou e trouxe artistas como The Stone Roses, Young Gods ou Tindersticks. Eu, com 16 anos, rumei até à vila minhota na companhia da minha prima Carla para viver um momento único. Lembro-me como se fosse hoje da viagem de comboio, do peso da minha mochila enquanto se procurava um local para montar a tenda, da noite fantástica ao som dos Madredeus, da trip monstra dos Stone Roses, da chuva que se lembrou de cair e claro do estúdio da Antena 3 montado em cima das casas de banho onde faziam emissão o Álvaro Costa e o Henrique Amaro. Foram 3 dias fantásticos que me marcaram para sempre.
Em 2003 regresso ao festival e já integrado na equipa da 3 a tratar da produção e emissão. Esse ano a equipa era enorme e o plano incluía as manhãs da rádio que na altura tinham o José Carlos Malato, Ana Lamy e a Ana Galvão. E a malta da noite (António Freitas e o Nuno Calado) faziam a dobradinha com a presença na Sic Radical. O cartaz desse ano era estranho. Vá, muito estranho. Pois juntava Guano Apes e Public Enemy, HIM e Tricky, Rufus Wainwright e Tomahawk. Bizarro.
Ainda por cima o festival começou "torto" com o momento Guano Apes que já contei anteriormente aqui. Mas cedo recompôs-se com a presença de Planet Hemp, uma das minhas bandas brasileiras favoritas de sempre, que na figura do B Negão, mostrou como se pode misturar atitude com simpatia. Numa longa conversa que tivemos falamos sobre o hip hop e eles disseram que iam ficar pelo festival até ao último dia para puderem ver Public Enemy ao vivo, e eu que já tinha agendado uma conversa com Chuck D, propus logo apresenta-los ao homem. Negócio fechado! 2º dia estava a começar em força e tinha ido ver os concertos de Grace e Toranja no palco Quinta dos Portugueses quando recebo uma chamada para ir entrevistar o Rufus Wainwright.
E este torna-se o momento. A caminho do estúdio (era uma tenda) da 3 enfio o pé num buraco bastante fundo e pumba! Dores e mais dores. Não me conseguia levantar, nem pôr o pé no chão, vem os bombeiros buscar-me e sou levado para o Hospital de Viana do Castelo. Ligamento quebrado, pé engessado.
3º dia é clássico. Pé no ar e momentos únicos. Tricky já o tinha visto no Coliseu e nada podia superar aquele concerto mas mesmo assim foi cool. Tomahawk não é o projeto que mais gosto de Mike Patton mas ele é um animal de palco. Mas nada me preparava para os Public Enemy. Muita história ligada à música negra e claro ao hip hop. E um líder carismático como Chuck D que depois de semanas a trocarmos emails se disponibilizou para ir até ao estúdio da 3, pois estava de pé partido, para uma conversa. E mais do que uma entrevista tivemos a conversar. Aprendi muito sobre o movimento com ele e fiquei com a certeza que iria guardar aqueles momentos para sempre. E assim foi.
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