26/09/2003

Palmas para Palma

A RTP 1 (infelizmente dentro de pouco tempo será a única RTP por via hertziana) irá transmitir na próxima noite de Sexta para Sábado, por volta das 0h15m, um concerto de Jorge Palma. Se em vez de fazerem mega-debates de 5 horas sobre o estado da música portuguesa fizessem este tipo de gravações e transmissões com regularidade é que faziam realmente algo pela música portuguesa. Venham mais transmissões assim!
Nota: segundo informações divulgadas no intervalo de Hable con Ella, este concerto apareceu "atirado" para a 1h da manhã, 45 minutos mais tarde que a hora anunciada inicialmente no site oficial da RTP.

23/09/2003

Toranja apresentam Esquissos para todo o país

Uma das novas bandas muito apreciadas por um número alargado de pessoas vai apresentar o seu disco de estreia a Armando Carvalheda, no seu Viva a Música. Após o informativo das 17h. de dia 25 a RDP Antena 1 aposta numa das novas promessas da música portuguesa, os Toranja. A entrada para quem quiser assistir ao vivo é livre, basta dirigirem-se à RDP Lisboa, nas Amoreiras.
Durante os cerca de 50 minutos de programa será possível não só ouvir 5 ou 6 temas como também uma breve entrevista referente à banda.
Toranja

18/09/2003

Desabafo

Para além de gostar da música da Alanis, confesso que sentia uma certa atracção por aquele cabelo super-comprido... Agora acabei de entrar em estado de choque depois de ter visto novas fotografias na Rolling Stone.

Todos juntinhos é que é bonito

Sobre esta noite só me ocorrem as seguintes expressões: "Longa se torna a espera", "Quem espera sempre alcança" e "Sardinha em lata". As duas primeiras têm relação directa, a última é mais indirecta.
Devido a tarefas e projectos anteriores, já tinha ouvido falar numa tour pelas capitais de distrito por parte dos Blind Zero com fins assumidamente promocionais, o que é extremamente bom nos dias que correm. Actualmente as pessoas só compram CDs se tiverem "um bom motivo" e um bom concerto pode ser precisamente esse bom motivo que faltava. Mas inicialmente esta experiência das capitais de distrito estava prevista para o início do ano (Março, se a memória não me atraiçoa) e culminar na data de disponibilização dos discos ao público, depois foi "atirada" para pós-disco, depois início de férias escolares e, numa altura em que eu já não acreditava na realização, os Blind Zero jogam esta cartada. Fora de tempo, é certo, mas ainda bem a tempo de conseguirem ganhar o jogo e (re)abrirem o precedente de ir a todo o lado com um espectáculo. Como Miguel Guedes referiu durante a actuação "foi precisa muita persistência e boa-vontade" quer da parte deles, quer da cervejeira que patrocina a experiência.
O recinto é, de facto, acolhedor mas revelou-se ineficaz para este espectáculo. Um espectáculo pensado para 200 pessoas devia sempre prever mais umas 50 ou 100, aqui foi mais ao contrário... As 200 eram muito por-favor e algumas pessoas tiveram de se sujeitar a ver nas escadas que davam acesso ao recinto em posições não muito aconselháveis pelos médicos da especialidade. Não havia palco, o que facilmente se tornou um obstáculo para os operadores de televisão no local e para o público que entretanto teve de ficar mais atrás. Foram diversas as pessoas que se limitaram a ouvir o concerto. Como todos queriam tentar ver um bocadinho que fosse de Miguéis e companhia, gerou-se o efeito "sardinha em lata", ali todos bem apertadinhos e que o simples acto de retirar o "bloco de notas" do bolso implicava ter de pedir desculpa a pelo menos duas pessoas.
O segundo problema da noite registou-se pouco tempo depois do concerto ter começado, no 1º tema com projecções. As projecções eram feitas para o baixo tecto por cima do palco inexistente e com uma parte ainda significativa na parede (criando um efeito estranho sobretudo no vértice). Já falei aqui do impacto que estas têm nos concertos e foi uma pena não se terem criado condições para uma projecção numa tela vertical.
Quem já viu concertos de Blind Zero apercebe-se que os concertos são uma cadeia de temas de todos os seus discos e nunca apenas para promover o último. Estes concertos são uma quebra total nessa linha de pensamento e, inicialmente, estranha-se mas depois acaba por funcionar extremamente bem porque há a possibilidade de ouvir temas que nunca foram apresentados ao vivo e que noutras circunstâncias não seriam tocados, como o caso de "Return to sender". Quando já se entra no conceito do espectáculo acaba por se estranhar o oposto, a entrada de "Another One" (o único tema de outro disco apresentado neste concerto) na abertura do encore.
As questões técnicas não ficam isentas de anotações: a estratégia de aumento gradual de volume (muito utilizada) acabou por atingir valores um pouco elevados e um problema técnico que não chegou a ser detectado atempadamente pelos técnicos de serviço com a caixa made-by-Blind-Zero que também já descrevi aqui impediram que o espectáculo fosse ainda melhor. "You in your arms" perdeu assim um dos seus momentos mais interessantes. Nas condições em que os técnicos estavam a trabalhar, era praticamente impossível fazer melhor.

No final eram poucas as pessoas que não tinham na mão um postal (ver imagem em baixo) para a banda autografar. Depois de todos os autógrafos, veio o convívio. Encerrou-se assim a primeira de 19 noites (18 capitais de distrito mais auditório da RDP).

Pelo balanço da primeira noite, valeu a pena esperar por esta Tour de Force! Que outras bandas e marcas de cerveja sigam o exemplo!

Postal BZ

14/09/2003

Uma janela, televisão ligada, possivelmente um zapping

Cheguei ao local do crime (Lavra, Matosinhos) cedo de mais, apesar de não ter optado pelo melhor caminho... Isto deu-me tempo para reparar em pormenores como nas janelas do prédio em segundo plano, atrás do palco.
Quando cheguei ao local estava, no máximo, uma dezena de pessoas (excluindo organização). No palco DJs iam colocando música para ver se o pessoal entretanto chegava. No press-release que nos foi fornecido apenas era referida uma hora, 18h., para a abertura de portas. Quando cheguei ao local, perto das 20h, pensei que já não iria ver quase nada mas enganei-me. Os concertos afinal começavam apenas às 21h30m (e assim foi, é curioso ver como ultimamente as organizações andam tão rigorosas com os horários, é de louvar que assim seja), fui jantar e ver o U. Leiria - F. C. Porto. Já havia 1 golo a favor do Porto mas ainda vi 3 golos, sendo o único do Leiria aquele que mais me marcou. Não porque nunca tivesse visto golos assim, mas porque nunca os tinha visto por parte do U. Leiria. Mas deixo estes assuntos para outros blogs e para os mais entendidos.

Alanis Morissette com voz de Sandra Nasic
A primeira banda da noite, os Red Apple, segundo o press-release que nos foi fornecido, são "influenciados pelo jazz, rock e funk". Até acredito que oiçam esses géneros mas o que eles fazem soa totalmente a Guano Apes. A forma como Mané (a vocalista da banda) canta é tirado a papel químico da voz de Sandra Nasic, que é uma fórmula que até funciona quando não se domina bem a voz, assim se fugir pode-se sempre dizer que era precisamente isso que se pretendia. Há também uma certa aproximação ao rock dos finais de anos 80 e inícios de 90. Em termos de sonoridade nada de novo mas não deixa de ser uma banda que com algum trabalho de casa poderá animar uma tarde de um Vilar de Mouros, pelo menos as pouco mais de cem pessoas no recinto não ficaram indiferentes (uns pela positiva, outros pela negativa).
O "crime" desta banda foi ter tentado fazer uma versão de Can't Not, que assumo desde já que é um dos meus temas preferidos da canadiana Alanis Morissette. Bem, nunca me passou pela cabeça ouvir uma versão deste tema. O Can't Not é um tema para a voz da Alanis, só! Uma pessoa a cantar e uma banda a tocar com todos os "tiques" dos Guano Apes não pode simplesmente fazer uma versão desse tema. Se calhar outros temas de Morissette até poderiam resultar bem mas jamais este que os Red Apple escolheram.
Para uma banda formada em 2000 e pelo que constava no documento fornecido, esperava-se muito mais.

Punk-glam inglês, dizem eles; pop-punk-rock, dizemos nós
O dia escureceu e numa das janelas que observara quando cheguei ao recinto vejo uma claridade de televisão, segue-se uma sequência rápida de imagens, possivelmente alguém fez um zapping.
Dos Silky não há muito a dizer... eles falam em "punk-glam" e talvez seja a melhor definição de um modo geral mas analisando tema-a-tema há uma mistura do punk e do rock com um lado mais pop. O baterista tentava interagir com o público mas sem resultados, tal como os temas propriamente ditos. Tirando a base de apoio que a banda tinha na primeira linha, a reacção dos restantes limitava-se a uns aplausos protocolares.
A banda tem disco marcado para o final deste ano, pode ser que após o registo digital cá fora as coisas funcionem melhor em palco. Infelizmente não dispomos do single mas este está também a ser disponibilizado no Canadá, onde a banda gravou o disco.

Múltiplas sonoridades, uma só banda
Durante a actuação dos Silky iniciou-se a contagem decrescente em audiência. Os que entretanto foram embora que estiverem a ler isto ficam agora a saber que se tivessem ficado mais uma hora não iriam dar a noite por mal empregue (a entrada era livre, por isso mal empregue não será o termo correcto).
Os Stowaways têm disco a editar em breve, o tema que têm na colectânea Pop Up Songs (Amputated Leg) chegou a fazer parte dos temas mais rodados em antena no terceiro canal do serviço público de rádio-difusão, portanto a banda tinha sobre si uma grande responsabilidade: não desiludir e, ao mesmo tempo, dar provas que há muito mais para além de Amputated Leg.
A actuação não começou da melhor forma... Pouco mais de um minuto tinham tocado e a ambulância passa praticamente encostada ao palco para o outro lado, alguém se sentiu mal. Diz a tradição que as pessoas do norte gostam muito de saber o que se passa, ou seja, a quase totalidade dos espectadores foi-se pôr em redor da pessoa em apuros, pouca gente se manteve a dar apoio à banda. Perto do final do tema a ambulância volta a furar pelo meio do público, desta feita em marcha de urgência. Note-se que atrás da área técnica (onde se controla o som que ouvimos e o efeito de luzes que vemos) não havia praticamente ninguém e a ambulância podia perfeitamente ter optado por aquela rota, até deviam ganhar tempo que não tinham de esperar que as pessoas saíssem da frente... Enfim...
Comas alcoólicos de parte, os Stowaways revelam múltiplas influências e referências culturais. A forte ligação à américa latina caracteriza-se sobretudo pelos toques de Bossa Nova e Samba que entram de forma mais ou menos subtil na generalidade dos temas. Outra sonoridade que se destaca é a Parisiense apaixonada, um pouco ao estilo da banda sonora do filme "O Fabuloso Destino de Amélie", que, por si só, junta um toque de Valsa, que nos remete para a Áustria e para os Strauss (pai e filho). Não me lembro de ver tal jogo de sonoridades em nenhuma outra banda portuguesa. Esta é, de facto, uma banda nova. (Curiosamente era aquela que menos prometia no documento que foi enviado para a nossa redacção.)
Se estivémos quase dez anos sem novos valores main-stream e há uma certa urgência em encontrar novos estilos e valores, os Stowaways serão por certo um nome a seguir com atenção nos próximos anos.

Pesado, muito pesado
A televisão daquela janela que já vos falei continua ligada, será que alguém se esqueceu de desligar?
O encerramento de noite coube aos Basement (e mais uma vez parece-me que voltou a acontecer o que se registou nas Noites Ritual Rock, um desajuste entre as duas últimas bandas). A banda já conta com registos discográficos desde o ano em que se formou - 1995 - mas pouco tem sido falada. Tal como a primeira actuação da noite, também estes são uma réplica de outra banda, mais concretamente dos Rage Against The Machine. Nos primeiros tempos aparentava uma linha mais hardcore (como eles próprios reconhecem) mas a partir do terceiro tema passou a ser nítida a aproximação à banda de Tom Morello. Infelizmente para os Basement, as músicas que passavam durante as mudanças de palco eram precisamente de Morello e companhia, o que facilitou a comparação e fez com que a prestação da banda se tornasse maçadora.
Um aspecto curioso foi o uso de um megafone e da criação de "diálogos" entre duas personagens fictícias de um tema. Lamenta-se apenas a má captação do som do megafone.
Talvez funcionasse bem em abertura de noite no extinto festival Ilha do Ermal.

Som não lavrado
Em suma: alguém estava na sala de estar a ver televisão, o F.C.P. ganhou 3-1, o evento foi interessante mas algumas coisas ficaram por lavrar, a saber:
1. promoção local (faltaram cartazes pela freguesia e por Matosinhos e Porto em geral);
2. sinaléticas que permitissem um mais fácil e rápido acesso ao local (se não fossem as paragens para perguntar a uns e a outros, não me safava facilmente);
3. a qualidade de som não foi a melhor (voz e tarola sempre muito puxadas para cima, tal como aconteceu com os GNR no Porto Sounds).
Não vou falar de cartaz porque sabe-se que as Juntas de Freguesia não têm propriamente um orçamento alargado para eventos musico-culturais, já muito fez a Junta de Freguesia de Lavra. Que este seja o primeiro de muitos Rocks de Lavra!

11/09/2003

Viva a Música

Tem sido frequente a minha escrita aqui sobre rádio mas ainda não abordei aqui um dos programas da RDP Antena 1 que é um verdadeiro exemplo de Serviço Público. Viva a Música, de Armando Carvalheda, é um programa de música portuguesa e de expressão portuguesa onde é possível ouvir actuações ao vivo (e em directo) com alguma regularidade. Hoje, a partir das 17h., Armando Carvalheda recebe Zeca Baleiro, um artista recomendado por Sérgio Godinho durante a actuação no Porto Sounds. Baleiro e Godinho fazem dueto em "O Coro das Velhas", do disco "O Irmão do Meio".
Não é só a participação no disco de Sérgio Godinho que coloca Zeca Baleiro num lugar de referência. Ao longo dos últimos tempos alguns dos seus temas têm passado no Portugália, de Henrique Amaro (RDP Antena 3), e na emissão regular da RDP Antena 1... Sem conhecer muito do artista, considero que é um directo a seguir com atenção. (Quem se encontrar nas Amoreiras por volta das 17h. pode tentar um lugar no auditório da RDP, a entrada é livre.)
Apenas uma nota final: site da RDP Antena 1 precisa-se, com urgência!

10/09/2003

Finalmente...

Esta é daquelas mensagens que serve só para eu e o meu camarada Manuel Silva.

:D

FINALMENTE !

Em breve mais pormenores...

Os irmãos vieram de avião...

Durante esta semana tive a oportunidade de conversar durante alguns minutos com a banda brasileira Los Hermanos.

O propósito foi maioritariamente sobre a página oficial deles e algumas paralelas, como blogs e clubes de fãs.

Uma das coisas que mais me impressionou neles e na sua equipa é a posição que tem em relação à informação e ao público. Eles fazem tudo para ser em duas vias: dar e receber. Cada concerto que fazem 2 ou 3 dias depois, disponibilizam uma série de elementos online. Como alinhamento, fotos, vídeo(s), equipa técnica e comentários de jornais e fãs.

Outra coisa que impressionou foi as visitas.... 1500 visitantes únicos por dia !!! O Brasil como todos sabemos tem uma dimensão quer em termos demográfico, quer geográficos que nada se comparam a Portugal. Por isso quando se fala em visitas assim é natural... quer dizer... mesmo assim é fantástico !

Para além de tudo, a simpatia e profissionalismo com que os brasileiros encaram a vida e a música é demais... vale a pena conhecer e conversar durante um bocado... principalmente com pessoas tão envolvidas em tudo.

Já agora, até calhou em conversa este quarteto já ter direito a bonecos do South Park e tudo... é realmente uma loucura ! Gostava de ver os Ornatos Violeta assim... e as semelhanças, como eles próprios viram, não são assim tão poucas.



Cliquem aqui para conhecer o site oficial dos Los Hermanos ou então para o Blog.

p.s. em breve vou deixar aqui um post para ouvirem uma sessão acústica dos Los Hermanos... fiquei impressionado !

09/09/2003

Encontra a tua música

Durante os últimos dias tenho-me debatido para escrever aqui sobre algo que descobri recentemente.

A rede de telemóveis Vodafone lançou recentemente um serviço em Inglaterra que se intitula "Music Finder" (se não estou enganado).

E para que serve perguntam vocês ?

Já vos aconteceu ir no carro a ouvir uma música, gostarem bastante e o animador não dizer o que é ? Ou então na discoteca, aquela canção que vos faz levantar o pé do chão ?

Agora, ao que parece, está tudo resolvido... quando isto acontecer, pegam no telemóvel topo de gama (claro!) e gravam a música. De seguida enviam para o serviço e dentro de algum tempo recebem a resposta. Título da música, autor, álbum, etc... Eles dizem tudo !

Sinceramente adorava ter acesso a isso... e a custo 0 (que é outra questão)... ainda por cima no nosso país não acontece como em Inglaterra onde a BBC Radio 1 disponibiliza online todas as playlists, mesmo de programas de autor (que é o que interessa).

Se descobrirem mais pormenores sobre este serviço inovador digam-me alguma coisa sff. Obrigado !

04/09/2003

Sons do Porto

NOTA: Este artigo foi editado a 6 de Setembro devido a um erro de transcrição que pode ter dado aso a más interpretações e maus juízos sobre as actuações, a redacção e terceiros que foram aqui mencionados. Fica desde já o pedido de desculpas pela gralha (que é natural quando se faz a redacção e transcrição imediatamente após as actuações).

Antes de mais hoje é um dia de festa para a Ponte Sonora: celebra-se hoje o nosso primeiro mês de actividade enquanto blog. Num mês falámos de rádio, falámos de filmes, cobrimos as participações portuguesas a Sudoeste, as Noites Ritual Rock mais a norte... Agora é a vez do Porto Sounds.

Para começar não se percebe muito bem o porquê deste concerto, a um dia de semana, num local que, para já, não serve para nada. O dito Edíficio Transparente tem uma camada de pó tal nos vidros que não seria má ideia renomearem para Edifício Opaco. A título pessoal não consigo prever grande sucesso para o edifício (a não ser que realmente avancem as construções descontroladas em redor do Parque da Cidade, tão polémicas no tempo do Eng. Nuno Cardoso) e não consigo compreender como é que a Câmara Municipal desinveste nas Ritual Rock e depois faz isto logo a seguir. Incompreensível. Passemos mas é ao que interessa!

Relógios atrasados

Já falei aqui nos hábitos portuenses (e não só) de começarem e chegarem sempre atrasados mas nunca disse que há horas sagradas na cidade, o jantar é uma delas. Podem haver centenas de actividades culturais pela cidade fora à hora de jantar que nenhuma irá contar com multidões, a não ser que seja um evento de gastronomia ou um evento desportivo de extrema importância para as equipas da cidade ou para Portugal. Neste Porto Sounds esta regra verificou-se. Pouco passava da hora exacta quando Francisco Menezes (aquele humorista de qualidade duvidosa que fazia o "Desterrado" na NTV e que mais recentemente fez um programa chamado "Portugal FM" para a RTP) subiu ao palco e iniciou o seu número para introduzir os Blind Zero. O recinto estava muito mal composto, não fazendo prever o que estaria para vir. Com um alinhamento essencialmente focado no "A Way To Bleed Your Lover", ficou visto que a banda não quis optar pelo caminho fácil e que está mais empenhada em dar a conhecer músicas novas do que tocar temas sobejamente conhecidos. Claro que estes também foram contemplados, curiosamente com um recinto bastante mais composto, e "Trashing The Beauty" e "Big Brother" (este último precedido das primeiras duas frases de "Another Brick In The Wall (Part II)", dos Pink Floyd) chegaram a gerar alguns pequenos focos de moche bastante moderado. As projecções vídeo continuam a servir de companhia a alguns dos novos temas, sendo particularmente agressiva a que acompanha "The Downset Is Tonight". Imagens de colisões propositadas de carros, impacto, suicídio, prazer: é disso que música e imagens falam. Já "About Now", o tema mais rock e psicadélico do novo disco, conta com uma rápida sequência de imagens de onde se destacam: Capitão América, Osama Bin Laden, George Bush, Adolf Hitler, Einstein, Becas (o personagem da Rua Sésamo) e muitas imagens caóticas. Este esquema tem-se revelado interessante mas, por outro lado, desvia a atenção daquilo que se passa em palco, dos músicos e da música propriamente dita. Outros dos temas novos, "You In Your Arms", deu a conhecer à grande maioria o novo instrumento inventado e concebido pelos próprios Blind Zero. Uma caixa com um projector dentro e que abanando gera uns ruídos semelhantes a chicotadas altamente amplificadas. Não sei que nome dão os Blind Zero ao seu invento mas eu cá chamo-lhe Reverb Box. Para acabar em beleza Vasco Espinheira pousa a sua guitarra de frente para os seus foldbacks (monitores, como são vulgarmente chamados) de forma a fazer feedback e começou a jogar com sons alterando apenas tonalidades e volumes no amplificador. Até sairam resultados interessantes; o guitarrista quase que conseguia fazer um uma melodia só dessa forma.

Miguel Guedes e companhia tiveram dois grandes desafios: o ser a banda de abertura e a aposta num alinhamento forte em temas novos. Se o primeiro só foi parcialmente ganho (começaram com muito pouca gente mas acabaram a meio-gás), o segundo foi uma aposta ganha. Mesmo sem saberem bem as letras o público aplaudia e, no final da actuação, ouvia-se mesmo gente a gritar por novo encore.

Um técnico para aqui, s.f.f.

Depois de mais um momento Francisco Menezes (desta vez com uma recriação de Michael Jackson e um rap) ligeiramente melhor que o anterior, foi a vez de Sérgio Godinho entrar em cena. Um tema com microfone sem fios e depois lá continuou com um normal devido a problemas técnicos (que mais tarde se viriam a repetir mas desta vez com os teclados de João Cardoso). Sérgio Godinho apostou essencialmente em temas que foram "hits" mas deixou muito caminho aberto para os temas de "Lupa" e de outros registos menos conhecidos. Desde que os arranjos passaram para as mãos de Nuno Rafael (Despe e Siga) todos os temas passaram a ter muito ska, rock-ska e alguma electrónica. Se por um lado pode soar bem, por outro torna-se repetitivo e retira aquele encanto de Sérgio Godinho ao natural. Cheguei mesmo a comentar que aquilo já não era Sérgio Godinho mas sim Nuno Rafael com letras e voz de Sérgio Godinho. Os momentos em que realmente reconheci o toque de Sérgio Godinho foram: "Etelvina" (numa versão mais calma, só com guitarras), "Charlatão" (tema de José Mário Branco e Sérgio Godinho) e "Lisboa que amanhece". Esquecendo os pequenos problemas que se registaram "aqui e ali", este foi o músico que contou com a audiência mais vasta e com a melhor formação. Não há um músico particular que se destaque, trabalham bem como um todo. Se houvesse um jogo maior entre a sonoridade original de Godinho e o ska, rock-ska, não teria dúvidas em classificar este como O concerto da noite, assim terá de partilhar o lugar com os Blind Zero.

Sérgio Godinho mal interpretado

Durante a actuação, Sérgio Godinho disse duas ou três vezes "vamos embora"... Acabou por ser levado à letra e quem saiu prejudicado foi Rui Veloso e os GNR.

O criador de personagens como a de "Chico fininho" e "Trolha da areosa" foi quem se seguiu ao possuidor do "Elixir da Eterna Juventude" e acabou por não sentir muito o abandono de muitos espectadores porque, ao mesmo tempo, outros (em menor número) chegavam.

Falar de Rui Veloso é sempre complicado... Dizer que o seu concerto foi baseado em "hits" é apenas meia-verdade porque o seu sucesso descontrolado até ao disco "Lado Lunar" fez com que um leque muito alargado dos seus temas ficassem no ouvido de toda a gente. Recentemente o meu colega de redacção escreveu aqui sobre televisão e a forma como esta transforma qualquer música num sucesso, o tema de abertura de Veloso foi precisamente transformado em hino por ter servido de genérico a uma telenovela; falo de "Todo o Tempo do Mundo". Um pouco por toda a parte havia gente a cantarolar a letra, pelo menos o refrão. No encore o destaque passou para "Postal Dos Correios", cujo registo discográfico conta com vozes de Jorge Palma, Tim (Xutos e Pontapés) e Vitorino no álbum "Rio Grande" do projecto homónimo. Um concerto igual a muitos outros que o canta-compositor tem feito mas que cai sempre bem.

Um concerto buy the book

Sobre a actuação dos EZ Special nas Ritual Rock, uma pessoa que estava comigo disse que era um espectáculo "by the book", eu alterei ligeiramente a frase para "concerto buy the book", visto que era totalmente promocional para levar as pessoas a comprar o disco. Sobre os GNR apetece dizer o mesmo, o que os distancia dos EZ Special é o facto dos GNR já terem muitos temas históricos e os EZ estarem agora a começar. "ósculos escuros", "e-ventos", "canadádá", "um mapa" e "sexta-feira (um seu criado)" foram temas precedidos de algumas palavras (não muito lúcidas) de Rui Reininho que, de uma forma ou de outra, deixavam subliminarmente a mensagem de que se tratavam de temas novos. Como se não bastasse, no encore volta a constar o primeiro single de "Do Lado Dos Cisnes" e daí acharmos que se estava a tentar vender algo mais que cerveja ali. Mas não se pense que só serviram temas do novo disco! O concerto abriu com um "Portugal na C.E.E." reajustado às novas realidades, passou por "Sangue Oculto", pelo multi-geracional "Dunas" (neste tema viram-se famílias inteiras a cantar também), entre muitos outros que fazem desta banda uma referência de gerações no pop-rock.

Muitas dúvidas

As primeira dúvidas que me surgiram (e às pessoas que estavam comigo): pretende-se iniciar uma nova tradição no Porto? Foi uma iniciativa avulsa da Câmara Municipal para promover o sítio que foi recentemente concessionado para ter bares e restaurantes? Será que Rui Rio se quis redimir por não ter aceite a integração do Porto no evento "100% música portuguesa" do movimento "Venham Mais Cinco"? E Miguel Guedes? Porque raio fez publicidade explícita à Sagres? E porque raio é que o vocalista dos Blind Zero fez um discurso a dizer que o Porto já estava a precisar de um evento assim quando ainda há menos de uma semana tivémos as Noites Ritual Rock nos Jardins do Palácio?

01/09/2003

Maré baixa

Finalmente um tempo para escrever sem ser para relatar concertos... Não que eu não goste de os ver e relatá-los por escrito mas gosto de poder divagar sobre outros assuntos. Precisamente devido a estes dois factores estive a pensar na forma como as marés de concertos estão mal distribuídas ou, mais grave, mal divulgadas.

No que toca a distribuição, existem dois pontos chave todos os anos: semanas académicas e festivais de verão. Curiosamente não diferem muito entre si (ok, o número de comas alcoólicos nas semanas académicas é maior, apesar do número de espectadores ser claramente superior num festival): ar livre, muitos watts de som e muita bebida. Estes dois tipos de eventos até nos fazem esquecer, por instantes, que há muito mais para além disso. Há concertos em pequenos bares, de bandas locais e não só, distribuídos durante o resto do ano e que, não tão raras vezes como seria desejável, estão às moscas. É lamentável que assim seja.

Ainda recentemente passei os olhos pelo site de uma empresa de agenciamento (e não só) e foi incrível ver que algumas bandas deram dezenas de concertos entre Março e a data de hoje e não me recordo de ter visto ou ouvido o mínimo de promoção que fosse da maior parte deles. Dos poucos que ouvi anúncios, a quase totalidade foi no programa Serviço Público da RDP Antena 3. Vamos ver se nos entendemos: o programa Serviço Público é UM programa com UMA hora diária e numa hora onde as pessoas estão mais preocupadas com o trânsito do que propriamente com o que estão a dizer no rádio. Mesmo que ouçam as datas de concertos, o mais provável é esquecerem (pelo menos é o que me acontece). Saliento que um dia tem 24 horas, que existem mais programas de rádio, que existem mais rádios e que existem outros meios de comunicação. É verdade que em terra de cegos quem tem olho é rei e a RDP Antena 3, com esse programa, fica claramente à frente da generalidade das concorrentes no que toca a promoção de concertos, o que não quer dizer que seja bom nem tão pouco o ideal. À semelhança do que acontece com o canal 1 da Rádio-Difusão, que tem informativos a todas as horas, nem que seja a repetir sempre o mesmo, não seria má ideia haver um espaço para "agenda do dia" a passar após cada sinal horário, pelo menos até às 21h. (das 22h em diante começava-se já a falar dos concertos do dia seguinte). Ouvintes e promotores ficariam agradecidos.

O Mundo da comunicação não se limita à rádio, embora a rádio seja aquele meio que não temos de pagar, está em praticamente todo o lado e é aquele meio indissociável da música. Analisemos então os outros meios de comunicação. Televisão, canais de circuito aberto: NADA. Não há nenhum espaço, nos 4 canais de circuito aberto, para promover os concertos de pequeno porte. No cabo as coisas são pouco melhores: a SIC Radical fala apenas nos concertos que as bandas convidadas vão dar nos próximos dois ou três dias. As bandas convidadas são, na melhor das hipóteses, 3 por dia e o mais provável é que os próximos concertos sejam por Lisboa ou redondezas. Por ridículo que possa parecer, acaba por ser a barra irritante do Sol Música o único meio que promove mais concertos desses pequenos. É verdade! Eu próprio fiquei surpreendidíssimo quando entre a mensagem "Mariana, era comigo que tu eras feliz. Volta para mim." e a mensagem "João, AMO-TE" vi uma série de datas de concertos que não vi anunciados em mais nenhum lado! Um autêntico achado no meio daquele lixo todo que passa permanentemente na barra. Peca por isso mesmo, por ser um achado no meio do lixo... A tendência natural quando se vê que 3 ou 4 mensagens não interessam é passar a ignorar o que passa na barra ou mesmo o canal propriamente dito. E em termos de televisão as coisas ficam por aqui. Jornais e revistas até acabam por dar a conhecer qualquer coisita algures com letras razoavelmente pequenas e, em alguns casos, limitado às simpatias (ou falta destas) dos responsáveis. Na Internet são inúmeros os sites a publicarem agendas mas nem toda a gente tem pachorra para procurar e nem toda a gente tem acesso à Internet. Vida.pt, Antena3.RDP.pt e os sites de produtoras de espectáculos (Mundo de Aventuras, Música no Coração e Xinfrim) são os que se destacam neste segmento.

Espero, com este artigo, estar a contribuir para que algo melhore nos próximos tempos em todos os meios.