31/08/2003

Listen carefully... There's more to come... Next year

Se tudo tivesse corrido bem, teria assistido a metade da actuação dos Dealema (DLM). Diz quem viu que foi uma actuação morna e que a banda merecia mais público a assistir. (In)felizmente neste segundo dia houve muito mais gente que se lembrou de ir até aos jardins do Palácio, o que dificultou o estacionamento. Como se não bastasse, da redacção da Ponte Sonora no Porto até aos jardins do Palácio é preciso fazer um percurso a contornar do rio Douro, que é também um percurso muito usado pelos casalinhos que aproveitam para deambular lentamente (de carro) pela cidade. Um percurso que se pode fazer em 10 minutos demorou praticamente 25 minutos, mais quase 10 para procurar estacionamento. E pronto... para quem contava chegar com 10 / 15 minutos de atraso, acabei por chegar com 40 minutos de atraso e perder assim a prestação dos Dealema.

Assim sendo a noite começou para mim com os Mesa. A roupagem da vocalista fez com que esta fosse muito "assediada" (não literalmente, claro) mal se apresentou em palco. A actuação não foi má, a banda recorre ligeiramente menos a samples comparativamente ao que assisti ano passado no palco secundário do Festival Sudoeste mas, ainda assim, a ideia de terem partes de instrumentos e vozes gravadas não agrada àqueles que vão ver ao vivo precisamente para ouvirem os temas com outra roupagem. Com os Mesa isso não acontece: o que se ouve em disco é o que se ouve em palco, com som ao vivo ou gravado mas tentam sempre recriar a sonoridade original. Como se trata de música para se "sentir a batida", há uma certa tendência para exagerar nos graves e no som dos teclados. Tirando isso, os temas seguem uma linha de influências de rock e ritmos mais dançáveis que acaba por se tornar repetitiva. Da minha parte fica a sensação que há muito mais a experimentar e a pôr em prática.

Para não ser incoerente com o dia anterior, mais uma vez a banda que merecia fechar a noite acabou por ficar no segundo plano. Os Terrakota já são um nome de referência em Lisboa e arredores há já, pelo menos, um ano e agora tiveram oportunidade para conquistar o Porto. Conquista que foi total e sem recurso a receitas de sucesso. No alinhamento da banda não constou o tema que a RDP Antena 3 mais rodou e que começa com a frase "Listen carefully"; esta omissão contrasta precisamente com a actuação dos EZ Special na noite anterior, que repetiu no encore o single "Daisy" numa versão prolongada. Grande parte dos temas dos Terrakota não eram do conhecimento do público mas isso não foi um problema, a sonoridade é fácil de agarrar mas há um excelente trabalho de ensaio que, certamente, não será tão fácil. O resultado foi espantoso, um sincronismo quase-perfeito entre todos os elementos, umas danças por parte da vocalista bastante bem enquadradas e naturais nas músicas. Mais visitas ao Porto aguardam-se.

Os Blasted Mechanism continuam a promover o "Namaste" mas, a bem da verdade, deve-se ressalvar que desde que entraram no estilo de dança (primeiro com as remisturas, agora com este álbum) a novidade já deixou de existir. O público salta e vibra (literalmente, visto que o piso também vibrava imenso) mas certamente que terá dificuldade em reconhecer algumas das músicas pois soa tudo muito parecido. Os graves mais uma vez foram puxados ao limite, não fossem essas as frequências que marcam a batida das músicas (que é o que interessa na música do género). Num dos temas o guitarrista tocou com um arco (parecido com os de violino), o que gerou uns sons curiosos mas quase abafados pelos graves, uma pena. Não há dúvidas que são bons execucionistas mas ser músico não é só isso... Os Blasted só teriam a ganhar com um regresso ao passado.

O mais antigo festival de Portugal vai iniciar os preparativos para 2004, a 13ª edição... Espera-se que não haja azares. A Ponte Sonora marcará presença pela certa.

30/08/2003

Tom Waits no feminino recebe telefonema de Istanbul

NOTA: Este artigo foi editado a 7 de Setembro por incluir informações erradas e devidamente desmentidas sobre o palco secundário das Noites Ritual Rock. Contrariamente ao que dissémos aqui (com base no que obtivémos noutro meio de comunicação social), o palco secundário deste evento nunca foi gerido pela Volume. Fica a anotação e o pedido de desculpas a todos os que foram afectados por este erro.

As Ritual Rock já tiveram noites melhores, quer em termos de clima, quer em termos de afluência, quer em termos de programa.
Se há coisa que os portuenses não são é pontuais mas já há uns anos para cá que a Xinfrim faz questão de cumprir quase à risca o anunciado. Pouco depois das 21h30m já os Fingertrips estavam no palco a animar o (pouco) pessoal. É uma pena porque a banda tem qualidade, boa disposição e uma sonoridade agradável. Do visual, dois elementos a salientar: a já habitual imagem do vocalista ao estilo "Blues Brothers" e o teclista que parecia um operador de perfuradoras (daqueles que andam por aí a escavacar a cidade toda). A banda subiu do extinto palco secundário para o principal com toda a justiça, para além da boa disposição são muito bons músicos.

No final da actuação fui até ao extinto palco secundário. O espaço foi transformado em lugar de projecções vídeo a cargo do canal ibérico Sol Música. Invariavelmente os vídeos eram produção caseira e passavam por todos os estilos de forma completamente aleatória, sem o mínimo de set-list elaborada (um pouco à imagem do próprio canal da Multicanal TPS).

Os Grace fizeram uma actuação com um alinhamento em tudo semelhante ao de Vilar de Mouros e ao do Sudoeste, a diferença é que aqui o palco era principal, eram cerca de 22h30m, o público estava de pé e era mesmo para os ver. Paulo Praça, que se apresentou de preto e com uma gravata branca, parecia um pouco mais bem-disposto pelo facto de ter à sua frente um público mais receptivo à sua sonoridade. Quem quiser mais detalhes sobre a prestação da banda veja o artigo do Sudoeste e acrescente que o som era indiscutivelmente melhor. "To all the stars" foi dedicado a uma estrela em particular - John Cage - falecida em 1992. (mais sobre John Cage em http://w3.rz-berlin.mpg.de/cmp/cage.html)

Injustamente, os Belle Chase Hotel não foram a banda a encerrar a primeira noite do ritual. A banda que serviu de mote ao título deste artigo actuou na segunda posição (tendo em conta que se vê de baixo para cima) com um espectáculo baseado no que prepararam para o "Coimbra - Capital Nacional da Cultura". Um tema introdutório instrumental com o som da guitarra portuguesa a salientar-se deixou logo a entender que não iria ser um concerto qualquer. JP Simões entrou em palco, atira o livro que trazia para o chão e reclama pela falta de cerveja. Pouco tempo depois regressou, já com cerveja garantida. E foi mesmo o vocalista que foi o centro das atenções: entre as músicas declamava umas frases às quais fazia questão de acrescentar comentários pessoais. Um misto de humor, literatura, música, cultura e sabedoria popular - uma mosca, uma pomba, uma mamã... Um espectáculo, acrescento eu. A confissão de estar "um bocado bêbado" acabou por se confundir no meio de tamanha encenação. Da menina que quer que esqueçamos tudo o que ela disse (Raquel Ralha, voz do tema "Esquece tudo o que te disse", entenda-se) fica a versão de "Telephone call from Istanbul", um original de Tom Waits.

Depois de três brilhantes actuações, os EZ Special acabaram por "cair mal" junto do público mais selectivo e "histórico" nestas andanças. Contrariamente a outros festivais, este é um festival adulto, para um público construtivo, não é propriamente o local da fãzinha histérica na primeira fila a alimentar o seu amor platónico por Ricardo Azevedo. Os EZ Special não souberam lidar com isso e chegaram ao ponto de pedir ao público uma falsa resposta "levantem os isqueiros, quero ver os isqueiros no ar. Quem não tem isqueiro põe os braços no ar, assim [e exemplificando o movimento]". Claro que o público, na sua maioria, ignorou o apelo e chegaram-se mesmo a ouvir comentários menos simpáticos dirigidos à banda. Nota-se que a banda tem feito o trabalho de casa, têm ensaiado e os resultados ao vivo fazem-se sentir no que toca ao rigor musical mas não foi o suficiente para despertar interesse. Daisy foi o único tema que conseguiu mexer com mais algumas pessoas, mesmo assim não chegou a "afectar" metade do recinto. Quanto à prestação em palco, não vou estar para aqui com divagações sobre se Ricardo Azevedo e amigos se mexem demasiado em palco ou não, eles (ou alguém por eles) lá sabem a postura a ter em palco, mas não posso deixar de referir um elemento estético que se revelou interessante em palco: 3 ecrãs distribuídos pelo palco com o logotipo e cores da banda. Apesar da má qualidade da imagem (que se notava mesmo à distância) dá um toque interessante.

O 12º Ritual é retomado dentro de algumas horas para mais quatro bandas, três das quais passaram pelo Festival Sudoeste este ano e a banda de abertura foi reportada aqui como uma das melhores bandas do portuguesas na Zambujeira do Mar - os Dealema -; vamos ver se conseguem manter a fasquia no nível elevado em que eles próprios colocaram.

(Nem imaginam os problemas que tive para conseguir colocar este artigo on-line. O serviço ADSL da ONI é do piorio... Por preços parecidos têm propostas bem mais estáveis e com melhores condições.Nunca confiem num ISP cujos servidores sejam autênticas "janelas" abertas para os vírus e ataques piratas. Nada como um "diabinho" para fazer a vida negra aos vírus e aos atacantes ou ter servidores das terras frias dos pinguins, onde vírus e atacantes nem se atrevem a entrar.)

29/08/2003

Portugueses só no palco secundário

O último dia de Sudoeste só contou com presenças portuguesas no palco secundário. Começou com os Spelling Nadja, cujos temas se enquadrariam perfeitamente na melhor banda sonora de um bom filme. A sonoridade quase que nos leva a viajar pela nossa imaginação, o que explica em muito o facto dos espectadores se encontrarem sentados ou deitados. Também fizemos a experiência e revelou-se de facto relaxante, conduzindo rapidamente a divagações sobre viagens e ao avivar da memória para pormenores de viagens feitas que, no momento, passaram quase despercebidos.

Zorg chegam com uma sonoridade que rompe totalmente com os primeiros. O punk-rock no formato mais cru é a sonoridade mais marcante desta banda. Muitos do que estiveram a assistir à primeira banda aproveitaram para visitar outros espaços do festival, os restantes estavam receptivos mas mantiveram-se sentados ou sem grandes movimentações, o que pareceu não agradar ao vocalista que criticou os presentes por reagirem histericamente quando uma banda estrangeira no palco principal diz "muihtoh ohbrighado" mas não aplaudem as prestações nacionais. Antes de mais convém frisar que quem vai assistir ao palco secundário são os fãs de música em geral e defensores da música feita em Portugal ou por portugueses, não são propriamente aqueles que apenas ouvem os grandes hits na rádio nem tão pouco os "apaixonados" por uma banda ou artista em particular. Certamente que poucos dos presentes reagiriam como o vocalista disse. Quanto à falta de aplausos, facilmente se percebe pelo cartaz que este não era um festival para fãs de punk, portanto é natural que todos tivessem uma certa dificuldade em perceber/sentir os temas e o punk não é tão facilmente expressável através do corpo como o hip-hop que invadiu o mesmo palco na tarde anterior. Apesar dos temas serem curtos, a sonoridade era sempre análoga, o que se tornou algo maçador.

Pelo palco ainda passaram os Mofo, os Mesa e o DJ Rui Vargas mas jantares e actuações no palco Optimus revelaram-se prioritárias. Sabe-se apenas que as performances foram bastante boas, com os Mesa a serem bastante mais bem recebidos do que no ano anterior (talvez por terem actuado às 23h e não às 18h).

O festival repete-se para o ano (se tudo correr bem) mas para já cumpre-se o Ritual portuense que, apesar de um cartaz menos forte, promete afirmar os novos nomes da música portuguesa que já passaram em edições anteriores pelos Jardins do Palácio de Cristal. Lá estaremos!

28/08/2003

Eu quero os prémios MTV Portugal !

A MTV norte-americana oferece esta noite os Video and Music Awards numa cerimónia que, pela sua história, se espera única.

Sou um fanático por prémios... sobretudo do showbizz (como diria o carrisímo Álvaro Costa)... já acompanhei dezenas informalmente e algumas oficialmente... mas com muita pena ainda não tive a oportunidade de assistir a nenhuma ao vivo.

Os prémios da MTV tem um efeito especial pois lembro-me com 7 ou 8 anos estar a ver na parabólica aquilo que me parecia ficção.

E uma das questões que me coloca hoje é:

- para quando os prémios da MTV Portugal que inaugurou em Agosto (salvo erro) ?!?!

Pelo trabalho desenvolvido pelas equipas de produção na Europa, sinceramente não sei o que esperar... mas gostava de assistir à 1ª !

Para os interessados, cliquem aqui para saberem mais pormenores sobre os VMA 2003 da MTV.

Tarde de hip-hop, noite de David Fonseca

Se há algo que nunca tinha visto num palco secundário foi o que vi na tarde de dia 9. O recinto estava cheio, toda a gente em pé e muito movimento de corpo. Também não era para menos, o hip-hop já há muito que não é apenas um som de minorias. Já há muito que o hip-hop saiu dos bairros e invadiu toda a sociedade, goste-se ou não do género.

Primeiro os Reacções Verbais, que eram uma novidade para a maioria dos presentes, terminaram a actuação relativamente cedo e muitos dos acampados perderam a sua actuação (como foi o nosso caso). Chegámos pouco depois das 17h40m e já o terreno estava a ser preparado para os Dealema. Os Dealema já não são uma novidade nestas andanças, já têm muitos anos de palcos pelo Porto e arredores, muitas participações com os Mind da Gap. Não foi nada difícil para os 4 MCs. Mesmo sem DJ em palco (uma groove box controlada por um MC tinha todas as batidas pré-definidas, não permitindo muitas divagações por parte dos MCs) conseguiram impressionar os presentes. Houve tempo para críticas: "Tentam pôr a culpa na sociedade" [...] "Nós somos responsáveis pela nossa vida. Vamos mudar as escolas, pintá-las, que parecem prisões do séculos XIX. Temos de continuar a manter o sonho vivo." Numa clara alusão à passividade com que uma boa parte das pessoas vive actualmente. Já perto do final da actuação Fuse, Guse, Xpião e Mundo pediram aos presentes para se manifestarem e a resposta a "façam barulho" foi, no mínimo, ensurdecedora. Foi o primeiro grande sinal de que o hip-hop está bem de saúde e apto para ocupar os palcos principais dos festivais.

O nome que se seguiu, Boss AC, teve a capacidade de manter a animação dos que já lá se encontravam e levar os que entretanto chegaram a entrar no espírito. O single "Baza, baza", com que encerrou a actuação, foi praticamente cantado na totalidade pelas pessoas que trocaram a praia pela tarde de hip-hop e a própria batida era praticamente inaudível fora da tenda. Uma tarde em grande para o hip-hop nacional.

A noite foi diminuta em termos de nomes nacionais, David Fonseca continuou a apresentar o seu "Sing me something new" com um espectáculo ligeiramente adaptado para o estilo festivaleiro. "Someone I cannot love" ouvia-se na zona mais distante do acampamento, não muito pelo som do palco mas sim pelo coro enormíssimo que já se tem tornado habitual nos concertos do ex-Silence 4.

27/08/2003

Sudoeste: o secundário que podia ser principal

Nesta edição do festival Sudoeste a música portuguesa passou essencialmente pelo palco Galp Energia, rotulado por muitos de palco secundário. De secundário este palco não teve nada, sobretudo na tarde dedicada ao hip-hop mas comecemos pelo início.

No primeiro dia (8 de Agosto) foi o rock e o pop/rock que dominou a tarde. Apesar da qualidade reconhecida das bandas, o público ainda não era muito e o que ia chegando preferia vaguear pelo recinto ou sentar-se na tenda do palco Galp Energia. Nem a potência e já alguma popularidade dos Renderfly conseguiu levantar as pessoas sentadas no recinto. A actuação dos Renderfly começou com um sample seguido de acompanhamento por parte de toda a banda e seguiu uma linha rock e pop/rock. O vocalista tentou manter algum contacto com o público mas acabou por confessar que tinha alguma dificuldade em falar português mas que está a aprender o idioma. A actuação encerrou com o já conhecido "Falling Star" mas, estranhamente, o vocalista referiu tratar-se de uma versão diferente da que passa na RDP Antena 3 quando, na prática, foi a versão eléctrica que já há muito passa na referida rádio.

Depois dos Renderfly subiram ao palco os Grace, que também estiveram em Vilar de Mouros, e que contam com uma formação conhecida de outras andanças: Paulo Praça (Turbo Junkie), Miguel (Zen) e Elísio Donas (ex-Ornatos Violeta e colaborador pontual na formação dos Blind Zero) são os rostos que saltam logo à vista. A sonoridade tem influências britânicas, do rock britânico, que foi cativando as pessoas que estavam a chegar ao recinto. Uma curiosidade desta actuação foi a versão de "Beautiful" da Christina Aguilera.

Os Loto encerraram o primeiro dia deste palco mas a nossa equipa aproveitou para se ir alimentar visto que o palco principal contava com Toranja e Blind Zero.

Os Toranja mantiveram um tipo de concerto muito semelhante ao que fizeram no palco secundário de Vilar de Mouros. Se em Vilar de Mouros a audiência preferiu estar sentada na relva, apesar de ter sido visível aqui e ali uma ou outra pessoa a cantarolar alguns dos temas, no Sudoeste estava um ambiente mais composto, em pé e que em alguns casos formavam um coro bem interessante. A actuação fica manchada da mesma forma que diversas outras desta banda, os Toranja ainda não conseguiram acertar com os técnicos e roadies, registando-se assim diversas falhas sonoras que poderiam ser evitadas com um pouco mais de rigor por parte do corpo técnico. É um problema que transcende a banda mas que prejudica a prestação e a imagem da banda. Ficou a curiosidade de ver a prestação em salas mais pequenas e, se possível, com uma equipa técnica com a lição mais bem estudada.

Os Blind Zero, por si só, já tinham no recinto uma massa de fãs para os ver. Numa altura em que a banda prepara uma tournée pelas capitais de distrito, neste caso foram pessoas de todos os distritos a deslocarem-se à pacata vila da Zambujeira do Mar com grande curiosidade para ver os Blind Zero em palco. Desta vez não houve projecções mas era visível que uma boa parte do público conhecia as músicas. A grande surpresa foi quando Miguel Guedes chamou ao palco Jorge Palma para acompanhar o sexteto portuense em "The Downset is Tonight", tal como acontece em "A Way to Bleed Your Lover". Se até aqui já as coisas tinham sido mais ou menos previstas pela revista do festival, o que ninguém previa era uma actuação de Jorge Palma acompanhado pelos Blind Zero; foi o que aconteceu quando Jorge Palma introduz o tema "Bairro do Amor" numa versão que Palma prometeu "usá-la com a banda" que o acompanha habitualmente. O bairro temporário da Zambujeira do Mar (que é um autêntico "bairro do amor", tal como os restantes festivais "rurais" de verão) ficou surpreso e agradado com a versão rock do tema. Devido à estrutura do festival, os Blind Zero deixaram uma parte significativa do seu alinhamento para a tournée que está para vir.

Trovante - estórias sem som

Desde já confesso que não sou grande apreciador da música feita pelos Trovante mas na última Feira do Livro em Lisboa adquiri o livro escrito por Manuel Faria intitulado "Trovante - Por Detrás do Palco".

Este livro foi escrito pelo antigo teclista do grupo lisboeta durante os 2 últimos anos, fazendo uma revisitação da carreira dos Trovante desde 1976 até 1999.

Como o próprio Manuel Faria afirma o livro "não pretende ser um retrato elogioso dos Trovante" e ao longo das mais 300 páginas raras vezes se sente isso e mostra como pode vibrar uma banda por detrás do palco.

Dos músicos que compõem (ou compunham) os Trovante a maior afinidade creio que, desde sempre, foi maior com Manuel Faria. O trabalho de Luís Represas nunca me suscitou grande emoção e com João Gil pouco mais se pode dizer. E para só falar dos mais mediáticos. João Salgueiro e os Gaiteiros de Lisboa ganham outro voto de confiança.

Mas depois de acabar de ler este livro surgiram-me algumas "ideias":

- porquê existe um fundo histórico da música portuguesa tão mal aproveitada e desprezada quando os primeiros trabalhos de uma banda como os Trovante (e é só uma entre muitas) não foi reeditado ?
- qual a "mistica" que envolvia esta banda ?
- que influência(s) tiveram na chamada música moderna portuguesa ?
- será que a sua obra é conhecida minimamente junto do público mais jovem ?

A estas perguntas junta-se uma vontade de conhecer melhor um trabalho que menosprezei durante anos mas acredito que cada vez mais seja de louvar.

Para os interessados:



Título do Livro - "Trovante: Por Detrás do Palco"
Autor - Manuel Faria
Editora - Dom Quixote

Podem comprar online na Media Books ou na FNAC.

25/08/2003

Músicas de anúncios para TV e Telenovelas

Aqui está um tópico que já poderia ter sido lançado 500 vezes...
O que me leva a reagir agora é a ligação mais próxima e eficaz da publicidade televisiva com a música portuguesa. Se durante algum tempo tivemos os exemplos do Moby e Lamb a atacarem os ouvidos de todos, agora temos EZ Special e Zedisanenonlight. E aqui entra a questão do gosto... A pop trolaró dos EZ Special desagrada a muitos mas verdade seja dita é bem feita. Transpira a U2 e James (talvez influencia de Saul Davies, guitarrista da banda inglesa e co-produtor do disco) por todos os lados... E então ? Já aconteceu muitas vezes ser confrontado por pessoas que acham que a banda é estrangeira. E há alguns anos atrás quando se ouvia uma banda portuguesa (salvo raras excepções) notava-se à distância a sua "costela" tuga.
O cantar em inglês... isso é uma questão que não vou colocar aqui... mas verdade seja dita as músicas portuguesas usadas para anúncios de TV são todas cantadas em inglês. E porque será ?!?! Aqui fica a pergunta... E os níveis de som de um anúncio televisivo em Portugal ??? Já repararam no aumento de, pelo menos, 50% do som ??? E sabem que isto é algo que já vem padronizado dos estúdios onde são gravados os anúncios ???

Enfim...

E o fenómeno telenovelas ?!
O mais recente caso são os Tribalistas que depois de tocarem insistentemente em todo o lado com "Já Sei Namorar", viram o seu disco vender caixotes cheios quando AS portuguesas (pois são as mulheres que mais compram discos no nosso país e que vem as telenovelas) ouviram a "Velha Infância" numa produção da Globo.

Enfim...

A repetição para a grande maioria das pessoas é o que as leva a reagir... toda a gente sabe disso... hoje em dia ninguém vai comprar um disco por ouvir um tema 1 vez... tem de ser repetido, até à exaustão... Quem ouve rádio sabe isso muito bem ! ;)

Enfim... mais uma curta reflexão de quem ficou em casa durante muito tempo ! :)

24/08/2003

Si, me gusta

Durante estes últimos dias tive tempo para pensar e ver bastante televisão...

E uma das coisas que me apercebi é que, regra geral, gosto de cinema espanhol !
"Habla com Ella", "Abre Los Ojos", "Boca a Boca" e "Y tu Mama tambien" são alguns dos exemplos disso. Confesso que não sou muito conhecedor dos realizadores aparte de Almodóvar e Amenabar e de alguns actores como Barden ou Cruz, mas gosto deste cinema.



"Habla com Ella" é o um dos últimos filmes de Pedro Almodóvar e fala sobre a história de um jornalista e uma toureira que entra em coma e das relações criadas e destruídas com o estado vegetativo. Um filme intenso, cheio de força e perturbador.



"Abre Los Ojos" é um filme já antigo, se não me engano de 1995, e tornou-se um clássico depois de Cameron Crowe pegar nele e realizar "Vanilla Sky". O mega-sucesso norte-americano com Tom Cruise e Penelope Cruz (que participou no original) é um remake quase integral do filme espanhol. Eu tive a oportunidade de ver em DVD (que inclui uma série de extras fantásticos e um menu de extremo bom gosto) e devo dizer que tenho de o comprar. A história anda à volta da Criogenia e relações amorosas e do futuro.
Um thriller reluzente, cheio de intensidade e muito bem escrito por Amenabar.



"Boca a Boca" é outro clássico (creio eu). Protagonizado por Javier Barden é uma comédia fantástica da qual não se consegue sequer piscar os olhos para não perder pitada. Um "futuro" actor espanhol tem de sobreviver a atender chamadas eróticas e tentar ganhar um grande papel numa super-produção americana. Sarcasmo, bos disposição, gozo e muito riso ! Recomendo para pessoas sem preconceitos.



E mesmo sem preconceitos "Y Tu Mama Tambien" ! Um filme cheio de tensão sexual, sem tabus e com uma fotografia fantástica. Um trio parte em busca de uma praia perdida... sem palavras... crianças divirtam-se !

14/08/2003

Sobrevivente do Sudoeste

Caras leitoras e leitores,
inacreditavelmente sobrevivi ao Sudoeste. Nem o número exagerado de horas de viagem, nem o facto de ter a tenda transformada em estufa a partir das 8h30m da manhã, nem o facto de ter apanhado um grande escaldão, nem... nem nada me deitou a baixo.
Ainda não escrevi nada aqui porque tenho andado ocupado a planear a minha vida e, imagine-se, a arrumar as toneladas de papel que fui escrevendo e adquirindo ao longo destes anos de estudante (calma... não foi desde a 1ª classe até agora mas ainda vi alguns vestígios do 10º ano). Depois disso, dependendo do tempo que me sobrar e da inspiração que tiver, ou publico aqui qualquer coisa sobre as prestações tugas (a tarde de hip-hop e os Blind Zero não me saem da cabeça, foram dois momentos simplesmente memoráveis nesta edição do Sudoeste) ou vou passar uns dias de repouso total, longe de Internetes e estas modernices todas.

Até breve!

06/08/2003

Noir Désir - o fim da maneira mais trágica...

Para a grande maioria dos portugueses os franceses Noir Desir são desconhecidos. Para uma infima parte, com ligações sobretudo emigrantes ao país, esta banda é/era uma das mais queridas no panorama do rock independente.

Formados nos anos 80 cedo começaram a despertar a curiosidade do público mas só em 1992 com a edição do álbum "Tostaky", o sucesso sorriu-lhes em definitivo.

Formados por Bertrand Cantat, vocalista/guitarrista e compositior, pelo baixista Frédéric Vidalenc e pelo baterista Denis Barthe cedo evoluiram de um registo feito de influências para um som próprio, dentro do rock mas não se fechando. O último disco de originais "Des Visages Des Figures" é bem exemplo disso com a participação de Manu Chao e de dois músicos vindos da world-music.

Sinceramente a música dos Noir Desir tem uma ligação intriseca comigo... desde a minha primeira visita a solo francês e à cidade de Paris que me apaixonei por esta banda e comecei a comprar discos e discos e discos...

Aquilo que me faz escrever aqui esta missiva é uma triste noticia.
Na semana passada Bertrant Cantat espancou violentamente a sua namorada e actriz Marie Trintignant, até à morte. Este acto chocou França e o Mundo. O músico num acto tresloucado, segundo se diz sob a influência de drogas e alcool, fez o inimaginável...

Se quiserem saber mais pormenores sob este caso podem seguir aqui:

TSF Online ou TSF Online 2
Le Monde

Eu sugiro que mesmo assim oiçam o fantástico trabalho deste músico que... acaba desta forma a sua "vida" !

Site Oficial dos Noir Désir



05/08/2003

Opinião: Serviço Público de Rádio-difusão

Por razões que a razão desconhece, deitei-me tarde esta noite... Duas horas depois um sonho, pesadelo ou uma realidade paralela fez-me acordar... Pus o disco de Jorge Palma (No Tempo dos Assassinos - CD2) e voltei a adormecer... Um mosquito resolve despertar-me uma hora depois e, visto que o meu leitor de CDs só aceita 1 disco lá metido de cada vez (já experimentei colocar 2, um sobre o outro mas a gaveta nem sequer fechou) e a hora não era propícia para andar a ver e escolher CDs para ouvir, resolvi mudar para as rádios..
Na RDP Antena 3 passava a repetição do programa mais insuportável da rádio portuguesa (até a publicidade dos canais privados consegue ser mais apelativa), um programa que nada tem a ver com o lema da rádio ("Mais Música Nova"). Foi na RDP Antena 1 que encontrei refúgio...
A renovada RDP Antena 1 tem-me agradado imenso, talvez faltem informativos musicais mas tirando isso está lá tudo: debates, música ao vivo, música sem ser ao vivo, notícias da actualidade, programas de ciência e tecnologia (uma versão "radializada" do programa 2010 que fazia parte da moribunda RTP2 e agora na NTV, como se aquilo fosse um programa regionalista ou regionalizado), desporto (como sempre o futebol e as negociatas em torno do futebol são o prato forte, para desgosto daqueles que gostam de desporto pelo desporto), leitura... Esta quase-manhã ouvi coisas que jamais esperaria ouvir: primeiro Sérgio Godinho com um tema do seu "Irmão do Meio", nenhuma surpresa até aqui; depois Sloppy Joe com Pedro Luís e a Parede com o tema "O Calor", uma agradável surpresa que se prolongou com mais um ou dois temas até ao novo adormecer. Afinal a Música Nova, quando não está na Antena 3, está na histórica irmã mais velha Antena 1. Assim vale a pena ter serviço público de rádio-difusão!

Adaptando o já conhecido slogan da RDP Antena 1: Liguem a rádio, liguem a RDP!

Ah! Daqui a dias vou para o Sudoeste... Espero ter papel e memória suficiente no telefone para depois comentar aqui todas as prestações Tugas no festival da Zambujeira do Mar. Fotografias... Errrrr... Não vai ser para já mas fica a promessa que com o decorrer deste Blog isso se vai tornar real.

E já que falo em festivais e esta é uma PONTE que liga os sons e as cidades, sinto-me triste por verificar que festivais como o recente Festival do Tejo têm tanta projecção nas rádios e na Internet e todos os anos, desde há 12 anos, o Porto tem o festival de música com maior número de edições realizadas, 100% português e com um preço de entrada para os dois dias praticamente insignificante. Para desgosto meu, como Portuense e amante das NOITES RITUAL ROCK, não vejo nenhum media - excepção feita à extinta NFM-Porto - a dar a importância devida a este evento. É um evento não só com história, que apenas se poderá tentar comparar a um Vilar de Mouros, visto que os restantes festivais aparecem já com intuitos comerciais, mas também com qualidade (muitas bandas actualmente de referência passaram por lá ainda sem disco, como é o caso dos Blind Zero, Blasted Mechanism, entre muitos outros). É uma pena que um festival urbano como este, de forte aposta em novos talentos e afirmação de outros já consagrados, se limite a ser rescaldado nas rádios em apenas 5 minutos e numa coluna de jornal. Onde está a deslocação de meios técnicos e humanos em massa que os media fazem para um Alvalade/GALP-Energia, um Vilar de Mouros, um Festival do Tejo, um Sudoeste, um Paredes de Coura? Onde está a televisão? Não basta jornais, rádios e cinemas oferecerem bilhetes, é preciso cobertura, transmitir ao país o espírito, o som, a alegria. Façam pressão junto das rádios oficiais do evento, garanto-vos que não se vão arrepender.
Em breve poderão saber tudo sobre as Ritual Rock 2003 em http://www.xinfrim.pt/nrr2003/.

Depois dos artigos noticiosos do Sudoeste voltarei com mais opinião.

04/08/2003

Welcome to the game

Uma ponte de sons... mistura de estilos... gostos... pontos geográficos...
O jogo... a prova de fogo... apostar a vida... experiências para algo "a sério".
Blog... textos livres... troca de ideias... moda... Internet.

Este Blog da Ponte Sonora é isto tudo. Vai valer a pena até chegar o derradeiro momento!

Finalmente a música portuguesa vai ser levada a sério na Internet.

Sejam Bem-Vindos !

ou Welcome to the Monkey House ! (Dandy Warhols)

Como diz o título deste Blog isto é um sitio feito para o umbigo... um depositório de estórias da vida sobretudo ligada à música de todas as maneiras possiveis e imaginárias...

Discos, Artistas, Concertos, Música, entre outras coisas tem aqui um lugar... o nosso lugar !