06/12/2003

Noites frias, registus quentes

Texto: Manuel Silva
Fotografias: André Garcia (Porto), Inês Póvoa (Lisboa)


 Espaço Registus
Registus - Matosinhos
Alla Polacca e Stowaways apresentaram finalmente o disco que já há um ano planeavam em duas noites frias de finais de Novembro. A Ponte Sonora deu plena atenção ao disco, à apresentação, às bandas e à editora, tendo para tal mobilizado uma equipa no Porto e uma repórter e fotógrafa para Lisboa.

Animação e Movimento

A noite de 28 para 29 de Novembro, no Porto, não era convidativa para grandes incursões pela noite contudo o Espaço Registus – Café Cultural, longe de estar sobrelotado, estava bastante composto. Os Stowaways foram os primeiros a entrar em cena; a tendência é escrever “subir ao palco” mas este foi um concerto bastante intimista, sem palco e com pessoas sentadas no chão (primeiras filas). Não havia nada a provar, a audiência parecia já estar totalmente rendida ao som dos Stowaways e, como se veio a confirmar posteriormente, ao som dos Alla Polacca.

 Stowaways no Santiago Alquimista
Stowaways no Santiago Alquimista
No caso dos Stowaways, os temas revelam uma objectiva ligação a movimento e animação (no sentido de existirem aspectos presentes que nos fazem recordar sons de desenhos animados, sobretudo mais antigos). Possivelmente esta associação deve-se ao facto de, ao lado da área de actuação, estarem a ser projectadas imagens onde se viam desenhos (desde esquemas eléctricos a personalidades ilustres), fotografias com características que revelam décadas de existência e outras fotografias recentes mas com uma vertente algo kitche.

Nesta actuação, os Stowaways recorreram a um teclista exterior ao grupo – Fred – para reproduzir de uma forma mais fiel o som registado no disco, onde a banda contou com as mãos de Elísio Donas (Grace).

A viagem cósmica pela ambiência dos Alla Polacca

 Alla Polacca no Santiago Alquimista
Alla Polacca no Santiago Alquimista
Os Alla Polacca não são uma banda de um só estilo. Já ouvimos diversos temas desta banda, já vimos um número razoável de concertos e questionamo-nos sempre o que estará para vir a seguir. A única característica comum é o facto de ser criado sempre um ambiente em torno dos temas que estimula o lado subjectivo de cada um.
Depois de uma mudança de equipamentos algo demorada, Pedro senta-se aos teclados e faz uma introdução que, conjugada com o vídeo projectado, nos poderia encaminhar para o EP “Not the White P?”, já aqui mencionado por Gonçalo Castro. O vídeo começou precisamente com a imagem de capa do EP, entretanto os restantes elementos vão entrando em cena e a actuação passa a ter contornos bastante diferentes do que inicialmente se previa. Temas fortes em termos de guitarras, revelando um lado mais “rock” (não literalmente) fizeram a essência da performance, depois de já terem passado por lados mais vocais e pelas incursões a teclados noutros concertos.
O fascínio pela experimentação e descoberta de novos sons tem valido à banda uma forte receptividade por parte da crítica e de um público que, de um modo geral, está algo saturado da música “da indústria”. Esta passagem por uma vertente mais “ruidosa” (a prova que o ruído pode ser processado musicalmente e tornar-se interessante) merece a maior atenção e apenas peca pela morosidade de alguns temas (o que, por outro lado, é benéfico para as projecções).

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