Cheguei ao local do crime (Lavra, Matosinhos) cedo de mais, apesar de não ter optado pelo melhor caminho... Isto deu-me tempo para reparar em pormenores como nas janelas do prédio em segundo plano, atrás do palco.
Quando cheguei ao local estava, no máximo, uma dezena de pessoas (excluindo organização). No palco DJs iam colocando música para ver se o pessoal entretanto chegava. No press-release que nos foi fornecido apenas era referida uma hora, 18h., para a abertura de portas. Quando cheguei ao local, perto das 20h, pensei que já não iria ver quase nada mas enganei-me. Os concertos afinal começavam apenas às 21h30m (e assim foi, é curioso ver como ultimamente as organizações andam tão rigorosas com os horários, é de louvar que assim seja), fui jantar e ver o U. Leiria - F. C. Porto. Já havia 1 golo a favor do Porto mas ainda vi 3 golos, sendo o único do Leiria aquele que mais me marcou. Não porque nunca tivesse visto golos assim, mas porque nunca os tinha visto por parte do U. Leiria. Mas deixo estes assuntos para outros blogs e para os mais entendidos.
Alanis Morissette com voz de Sandra Nasic
A primeira banda da noite, os Red Apple, segundo o press-release que nos foi fornecido, são "influenciados pelo jazz, rock e funk". Até acredito que oiçam esses géneros mas o que eles fazem soa totalmente a Guano Apes. A forma como Mané (a vocalista da banda) canta é tirado a papel químico da voz de Sandra Nasic, que é uma fórmula que até funciona quando não se domina bem a voz, assim se fugir pode-se sempre dizer que era precisamente isso que se pretendia. Há também uma certa aproximação ao rock dos finais de anos 80 e inícios de 90. Em termos de sonoridade nada de novo mas não deixa de ser uma banda que com algum trabalho de casa poderá animar uma tarde de um Vilar de Mouros, pelo menos as pouco mais de cem pessoas no recinto não ficaram indiferentes (uns pela positiva, outros pela negativa).
O "crime" desta banda foi ter tentado fazer uma versão de Can't Not, que assumo desde já que é um dos meus temas preferidos da canadiana Alanis Morissette. Bem, nunca me passou pela cabeça ouvir uma versão deste tema. O Can't Not é um tema para a voz da Alanis, só! Uma pessoa a cantar e uma banda a tocar com todos os "tiques" dos Guano Apes não pode simplesmente fazer uma versão desse tema. Se calhar outros temas de Morissette até poderiam resultar bem mas jamais este que os Red Apple escolheram.
Para uma banda formada em 2000 e pelo que constava no documento fornecido, esperava-se muito mais.
Punk-glam inglês, dizem eles; pop-punk-rock, dizemos nós
O dia escureceu e numa das janelas que observara quando cheguei ao recinto vejo uma claridade de televisão, segue-se uma sequência rápida de imagens, possivelmente alguém fez um zapping.
Dos Silky não há muito a dizer... eles falam em "punk-glam" e talvez seja a melhor definição de um modo geral mas analisando tema-a-tema há uma mistura do punk e do rock com um lado mais pop. O baterista tentava interagir com o público mas sem resultados, tal como os temas propriamente ditos. Tirando a base de apoio que a banda tinha na primeira linha, a reacção dos restantes limitava-se a uns aplausos protocolares.
A banda tem disco marcado para o final deste ano, pode ser que após o registo digital cá fora as coisas funcionem melhor em palco. Infelizmente não dispomos do single mas este está também a ser disponibilizado no Canadá, onde a banda gravou o disco.
Múltiplas sonoridades, uma só banda
Durante a actuação dos Silky iniciou-se a contagem decrescente em audiência. Os que entretanto foram embora que estiverem a ler isto ficam agora a saber que se tivessem ficado mais uma hora não iriam dar a noite por mal empregue (a entrada era livre, por isso mal empregue não será o termo correcto).
Os Stowaways têm disco a editar em breve, o tema que têm na colectânea Pop Up Songs (Amputated Leg) chegou a fazer parte dos temas mais rodados em antena no terceiro canal do serviço público de rádio-difusão, portanto a banda tinha sobre si uma grande responsabilidade: não desiludir e, ao mesmo tempo, dar provas que há muito mais para além de Amputated Leg.
A actuação não começou da melhor forma... Pouco mais de um minuto tinham tocado e a ambulância passa praticamente encostada ao palco para o outro lado, alguém se sentiu mal. Diz a tradição que as pessoas do norte gostam muito de saber o que se passa, ou seja, a quase totalidade dos espectadores foi-se pôr em redor da pessoa em apuros, pouca gente se manteve a dar apoio à banda. Perto do final do tema a ambulância volta a furar pelo meio do público, desta feita em marcha de urgência. Note-se que atrás da área técnica (onde se controla o som que ouvimos e o efeito de luzes que vemos) não havia praticamente ninguém e a ambulância podia perfeitamente ter optado por aquela rota, até deviam ganhar tempo que não tinham de esperar que as pessoas saíssem da frente... Enfim...
Comas alcoólicos de parte, os Stowaways revelam múltiplas influências e referências culturais. A forte ligação à américa latina caracteriza-se sobretudo pelos toques de Bossa Nova e Samba que entram de forma mais ou menos subtil na generalidade dos temas. Outra sonoridade que se destaca é a Parisiense apaixonada, um pouco ao estilo da banda sonora do filme "O Fabuloso Destino de Amélie", que, por si só, junta um toque de Valsa, que nos remete para a Áustria e para os Strauss (pai e filho). Não me lembro de ver tal jogo de sonoridades em nenhuma outra banda portuguesa. Esta é, de facto, uma banda nova. (Curiosamente era aquela que menos prometia no documento que foi enviado para a nossa redacção.)
Se estivémos quase dez anos sem novos valores main-stream e há uma certa urgência em encontrar novos estilos e valores, os Stowaways serão por certo um nome a seguir com atenção nos próximos anos.
Pesado, muito pesado
A televisão daquela janela que já vos falei continua ligada, será que alguém se esqueceu de desligar?
O encerramento de noite coube aos Basement (e mais uma vez parece-me que voltou a acontecer o que se registou nas Noites Ritual Rock, um desajuste entre as duas últimas bandas). A banda já conta com registos discográficos desde o ano em que se formou - 1995 - mas pouco tem sido falada. Tal como a primeira actuação da noite, também estes são uma réplica de outra banda, mais concretamente dos Rage Against The Machine. Nos primeiros tempos aparentava uma linha mais hardcore (como eles próprios reconhecem) mas a partir do terceiro tema passou a ser nítida a aproximação à banda de Tom Morello. Infelizmente para os Basement, as músicas que passavam durante as mudanças de palco eram precisamente de Morello e companhia, o que facilitou a comparação e fez com que a prestação da banda se tornasse maçadora.
Um aspecto curioso foi o uso de um megafone e da criação de "diálogos" entre duas personagens fictícias de um tema. Lamenta-se apenas a má captação do som do megafone.
Talvez funcionasse bem em abertura de noite no extinto festival Ilha do Ermal.
Som não lavrado
Em suma: alguém estava na sala de estar a ver televisão, o F.C.P. ganhou 3-1, o evento foi interessante mas algumas coisas ficaram por lavrar, a saber:
1. promoção local (faltaram cartazes pela freguesia e por Matosinhos e Porto em geral);
2. sinaléticas que permitissem um mais fácil e rápido acesso ao local (se não fossem as paragens para perguntar a uns e a outros, não me safava facilmente);
3. a qualidade de som não foi a melhor (voz e tarola sempre muito puxadas para cima, tal como aconteceu com os GNR no Porto Sounds).
Não vou falar de cartaz porque sabe-se que as Juntas de Freguesia não têm propriamente um orçamento alargado para eventos musico-culturais, já muito fez a Junta de Freguesia de Lavra. Que este seja o primeiro de muitos Rocks de Lavra!
Sem comentários:
Enviar um comentário