Escrever sobre rádio nem sempre é fácil, sobretudo em alturas como esta. A rádio portuguesa está a um passo de ficar mais pobre com o desligar da emissão da VOXX (que teve esta madrugada a sua última linha aberta e onde as últimas palavras do animador foram: "até um dia destes").
A VOXX não era uma rádio para audiências e não cumpria as quotas de rádio existentes. A meu ver justificava-se totalmente o estatuto de rádio temática, à semelhança do que acontece com a RDP Antena 2 porque o carácter alternativo que a VOXX sempre teve não era conciliável com 40% de música criada por portugueses (que, efectivamente, se trata de música com o carimbo de editoras portuguesas).
Dizer que era ouvinte regular da VOXX é falso mas até gostava de passar os ouvidos por lá de tempos a tempos, por isso o encerramento da rádio não me passa indiferente, tal como não foi indiferente o fim da XFM e da Rádio Energia/FM Radical. Compreendo as razões que levam um empresário a vender as suas rádios, não compreendo é que vendam às cegas.
Ainda esta noite, enquanto ouvia a linha aberta da VOXX, pensava nas mudanças que ocorreram nos últimos anos nas rádios portuenses:
Nos 90.0FM tivémos Rádio Energia/FM Radical (dirigida por Luís Montêz e propriedade da Lusomundo), que fechou, andou à deriva e depois passou a VOXX. A VOXX está condenada a transformar-se dentro de pouco tempo e não se sabe por quanto tempo em retransmissor Media Capital.
Os 90.6FM, que me lembre, abriram como rádio local para um público mais jovem (partilharam o apoio das Noites Ritual Rock com a RDP Antena 1 durante dois anos, os únicos em que foi possível ver o evento com a merecida atenção na rádio, com emissões especiais, transmissão de concertos, etc.), antes de ir para a Escócia sabia que a rádio estava em vias de encerrar mas quando cheguei ainda vi no RDS o nome NFMPORTO e sosseguei porque, afinal, o Porto ainda tinha uma rádio para massas minimamente aceitável. Passados poucos meses iniciaram-se nessa frequência as emissões experimentais de um canal do grupo Renascença, a Mega FM Porto. Foi um retrocesso. Se em termos de rádio pouco se notou de diferente (a não ser os animadores acelerados e histéricos, que até têm vindo a acalmar e a melhorar), notou-se muito na cobertura de eventos da cidade.
Os 105.8FM são o habitat natural da esquizofrenia Media Capital. A frequência que em tempos pertenceu a uma rádio local de Valongo passou para as mãos da Lusomundo que tratou de a usar (e muito bem) para retransmitir o sinal da XFM (também sob o comando de Luís Montêz). Nessa altura o grupo Lusomundo era líder indiscutível de audiências no Porto com o público mais adulto na TSF, um público mais eclético e curioso por ouvir coisas novas na XFM e o público mais novo e mainstream na Rádio Energia, posteriormente rebaptizada de FM Radical. Mas voltando aos 105.8... Depois da XFM a frequência passou por momentos inexplicáveis: ora não emitia nada, ora emitia programas daquelas "religiões" que todos conhecemos, ora deixava de emitir novamente, ora emitia rádio local... Até que a Media Capital opta por adquirir a frequência, sem nunca ter tido um plano concreto para ela. Mix FM, Continental FM, Best Rock FM são sinais que se podem ir ouvindo por ali, de acordo com a vontade de alguém que está confortavelmente sentado no seu gabinete em Lisboa e desconhece a realidade local.
Pode-se ainda falar dos 98.9FM, até há pouco mais de um ano totalmente detida Sonae. Actualmente a frequência está nas mãos da Sonae e do Eng. Luís Montêz, o mesmo que esteve na Energia/FM Radical, na XFM e no relançamento da Rádio Comercial em 1997. Mais um exemplo de transferência parcial do poder para Lisboa, para uma realidade distante, para um gabinete de Lisboa.
Não é preciso fazer muitos cálculos para se concluir que o Porto, mais do que qualquer outra região do país, vive totalmente dependente da vontade das empresas públicas e dos grupos financeiros sediados em Lisboa no que toca a rádios. A venda e desaparecimento da VOXX confirmam isso mesmo.
A "estória" da "morte aos mouros" do mundo futebolístico representaria a criação de um enorme vazio em termos de meios de comunicação no Porto. Onde está, Porto e portuenses, a nossa identidade?
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